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Há dias assim

Há dias assim
em que me sinto projectado como uma mola
para além do infinito
mas volto a mim, perscruto no meu interior e reparo
que é inútil fugir. Cumpre-se o Destino.
Por isso opto por ficar aqui, parado, estático no tempo
enquanto a outra parte de mim teima em partir
para o incerto, o indefinido, o lugar nenhum.
Cumpre-se a sina.

Quando o sol da tarde já morto no seu esplendor tinge
de sangue rubro – um misto de amarelo e vermelho –
a linha do horizonte
para lá das janelas abertas dum mar de sonho distante,
medito nos dias em que o céu e o mar se fundem
num só. Extravaso-me de dor para dentro de mim
e sofro. Sinto as horas correrem nesta imobilidade
em que vivo, vazio, sinto-me impotente
por não conseguir segurar aqui o tempo
e impedi-lo de partir.
Queria segurá-lo, algemá-lo comigo e poder-lhe dizer
que aprendi com ele mistérios de vidas.
Experiências inúteis que servem apenas para meditar.
Que não são remédio para coisa nenhuma.

Há dias chuvosos e de sol, dias primaveris e verões
dias de todas as estações…
Mas os dias piores são aqueles que nascem
sem serem de estações de ano nenhum.
São dias cinzentos. Dias de treva cinzenta.
Mórbidos, mesmo. São dias que não pertencem
a qualquer estação do ano. São apenas os dias
das estações do calendário da minha vida. E doem!
Doem esses dias cinzentos que começaram no tempo
longínquo em que ainda pensava que era possível
caminhar erecto, de pé, e romper essa espécie de treva
cinzenta que me penetra até ao mais longínquo osso
deste corpo coalhado em mim.

Há dias assim.
Dias cinzentos em que me projecto, em imagem,
para dentro das imagens que nascem em mim
– imagens que já não são de futuro nem coisa
nenhuma que seja luminosa –.
E busco-me em memórias passadas.
E envelheço no tempo. Devagar, mas envelheço!
Envelheço como o anoitecer de todos os dias
de todos os meses e anos que cai devagar no meu Cais.
E neste meu envelhecer, parte de mim envelhece
comigo – é a parte que prefere ficar –
e a outra parte do meu ser teima em partir
para lugares que nem conhece de lugar nenhum
no seu espírito doido de aventura.
Estou dividido por dentro.

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quinta-feira, maio 12, 2011 - 11:38

Poesia :

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AlvaroGiesta

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