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Inquietações (I)
Também não quero ser nada. Além disso,
como não aspiro a nada diferente daquilo que quero ser,
e sou, é lógico que não queira ser coisa alguma.
Basto-me assim. – penso!
Mas, reconheço que, conquanto não queira ser nada,
tenho em mim uma angústia de fome
de querer ter algo em que acreditar na vida.
É uma angústia desconhecida, que me consome
e domina as entranhas. É uma ânsia de viver
indefinidamente a vida,
se bem que muitas vezes o tédio me faz desejar
não viver.
É como se, acordado, dormisse inquieto
desassossegado,
metade do tempo a dormir e outra metade
a sonhar.
Eu sei que sonho, definidamente, com o indefinido.
Deixem-me sonhar assim.
Ninguém se interponha com teorias da treta
entre aquilo que sou e sonho
e o que não sou nem sonho de mim.
Aquilo que sonho ou não sonho acordado
apenas diz respeito a mim e não preciso
para minha defesa de qualquer advogado.
(...)
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