O mundo...

Não consigo parar de ouvir o que dentro de mim se esconde
Tentei, mas perdeu-se o som no momento que nada pensei
E corri em busca do que sei que encontro sem saber onde
O sangue começa a pulsar e tento partir do sítio onde fiquei
Mas tudo o que sou se espreme para ouvir o que não quero
E sei que jamais o meu pensamento me dirá algo que não espero
E no meu coração desespera o que existe em mim de mais sincero
Não consigo parar de ouvir as palavras que, de mudas, morrem cedo
Tentei, mas esgotei a audição que guarda o mais ínfimo medo
E cansei-me de esperar, de ambicionar, de sonhar, de querer
Que o mundo acorde da solidão mesquinha que o embala
Que desperte da preguiça egoísta que se entranha e lhe devora o ser
Porque o mundo é mais, muito mais do que quem pouco o regala
E não ouço quem queira acordá-lo com um gesto de amizade
Ouço silêncio que se prolonga para passar despercebida a maldade
Em passos ocultos que se arrastam carregados de cobiça
Caminham sozinhos porque ignoram os demais que tentam vencer
Dos que ainda ouvem o sussurrar abatido que o mundo tem para dizer
Vou parar novamente esta ânsia que se ergue no meu peito jovem
Esta revolta que espelha o caminho podre que tantos escolhem como correcto
Quem sou eu para tentar alterar o que, previamente, já foi dado como certo?

Elsa Azevedo