Inspira, relaxa e divaga... Suspira!
Bate a porta furiosa, fecha-a como uma barragem que sustenta as águas agitadas pela tormenta.
Abre a porta do armário procura o seu reflexo trancado e como se o tempo não sentisse, admira o rosto marcado.
Inspira, relaxa e divaga...
Preocupa-a o fogo. Essa chama alta que a atormenta e a instiga a não aceitar o quotidiano bafiento, cozinhado em banho-maria.
Suspira, encostada a um canto de olhos postos numa cama que não quer ocupar. Ali, as rendas não se desfazem e as roupas não esvoaçam como lenços largados ao vento.
O espaço encolhe, como se a realidade a quisesse acordar do seu torpor. Mas que realidade?
Aquela que lhe diz que é normal que os sentidos mirrem ou a outra que diz que é por falta de amor que não sente?
Procura novamente o espelho, observa as marcas no rosto e no corpo. Não deu pelo tempo passar, mas este corre para uma meta que poucos pretendem alcançar... Pelo menos, não tão cedo.
Não pretende parar o relógio, apenas gostaria de encher as horas com mais do que o dia-a-dia de que todos se queixam.
Ela não se queixa, mas lamenta... Barricada no seu canto, afasta-se da realidade que lhe bate à porta e mergulha na espiral das possibilidades infinitas. Liberta-se da dor e abraça o fogo que sente dentro si, alimentando-o com gestos que cultivam suspiros.
Cresce um jardim naquele lugar trancado.
As trepadeiras selvagens esticam-se cobrindo tudo. Apenas a cama parece não ceder à transformação do espaço, mantendo-se aquilo que na verdade é: um espaço onde dormem vontades.
Com um brilho nos olhos, inebriada pelo perfume deste jardim secreto, ela salta perturbando os lençóis de um branco esticado. Pouco lhe importa o seu queixume, rodopia dançando, engelhando-os com a sua vontade.
A sua vontade … «Pensa, tocando nos lábios para a sentir melhor.»
Enrola o corpo nos lençóis e deita-se, ouvindo-os suspirar de alívio.
Pausa, apenas por um momento.
Um momento apenas enquanto a sua respiração se concentra no ritmo crescente.
Agarra o tecido, esfrega-o, leva-o à boca e, como lhe falasse ao ouvido, murmura:
_Por minha vontade serias sempre um lençol suado, enrolado num sorriso adormecido. Nunca esticado como se a vida apenas fosse vivida lá fora.
Rasga a renda que lhe venda a pele, arranca o tecido que lhe cobre os sentidos, deixa fluir o gemido …
Inspira, relaxa e divaga... Suspira!
Submited by
Prosas :
- Login to post comments
- 1347 reads
Add comment
other contents of Ema Moura
Topic | Title | Replies | Views | Last Post | Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Ministério da Poesia/Love | A minha origem e o meu fim! | 0 | 449 | 03/15/2011 - 01:52 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Love | Se não escrevo | 0 | 436 | 03/15/2011 - 11:13 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Love | E o impossível acontece | 0 | 538 | 03/15/2011 - 11:20 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Passion | Desejo Febril | 0 | 595 | 03/15/2011 - 11:30 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Intervention | Fome doentia | 0 | 584 | 03/15/2011 - 11:33 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Love | Confesso | 0 | 487 | 03/15/2011 - 11:36 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Love | Tenho-te! | 0 | 433 | 03/15/2011 - 11:44 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Love | Na tua boca... | 0 | 459 | 03/15/2011 - 11:47 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Erotic | Jamais partir | 0 | 496 | 03/15/2011 - 11:53 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Love | Na terra do impossível | 0 | 433 | 03/15/2011 - 11:58 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Love | A verdade incómoda | 0 | 462 | 03/15/2011 - 12:02 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Passion | Perco-me | 0 | 544 | 03/15/2011 - 12:06 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Passion | Agarra-me! | 0 | 568 | 03/15/2011 - 12:08 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Intervention | Queria ser livre | 0 | 497 | 03/15/2011 - 12:12 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Dedicated | Essência | 0 | 629 | 03/15/2011 - 12:15 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Erotic | Promete | 0 | 992 | 03/15/2011 - 12:19 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Meditation | Reflexos da Alma | 0 | 606 | 03/15/2011 - 12:22 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Disillusion | Mastigo-te! | 0 | 562 | 03/15/2011 - 12:26 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Disillusion | Livre | 0 | 578 | 03/15/2011 - 12:28 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Meditation | Exalar | 0 | 556 | 03/15/2011 - 12:34 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Disillusion | Claramente | 0 | 672 | 03/15/2011 - 15:16 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Love | Porque mereço... | 0 | 514 | 03/15/2011 - 15:19 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Meditation | Insanidade | 0 | 519 | 03/15/2011 - 15:22 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Intervention | Em queda livre | 0 | 599 | 03/15/2011 - 15:50 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Meditation | Meu vício | 0 | 515 | 03/15/2011 - 15:53 | Portuguese |
Comments
... Surpira!
Muito boa também, a tua prosa poética, Ema!! Felicito-te! Visitar a tua página foi uma bela surpresa! Voltarei com mais tempo.
Beijos
Nuno
Inspira, relaxa e divaga... Suspira!
Nuno
É realmente muito importante quando alguém quebra o silêncio e ergue uma ponte.
Desejo uma poética travessia.
Até à próxima.
Ema