Eu sei que foi você - capítulo 14
Narciso tivera vontade de rir na cara de Marcelo ao vê-lo entrando com Cassandra na sala de aula.
"Cachorro! Brigou comigo, a quem conhece desde os oito anos, por causa de uma menina que entrou este ano!"
Ele seguiria Cassandra quando ela saísse da escola. Descobriria onde era a casa dela, encurralaria a ratinha atrevida.
"Você não perde por esperar, sua bostinha! Vou matá-la de medo!"
Cassandra saiu andando tranquilamente e Narciso a seguiu, mantendo-se a uma certa distância para que ela não notasse que era seguida.Em nenhum momento ela olhou para trás, o que aumentou a segurança de Narciso.
Ela andava entre as pessoas, esgueirando-se como se não quisesse encostar nelas. Atravessou a rua e chegou a casa, um sobradinho simples. Entrou.
-Muito bem, ratinha nojenta. Vi onde você mora. Vou descobrir seus hábitos.
A obsessão de Narciso era tanta que ele decidiu que passaria o dia ali. Seus pais só chegavam ao anoitecer mesmo.
Não demorou a ver que as cortinas de uma janela se abriam. Cassandar surgiu, olhando-o com raiva.
-O quê?! embasbacou-se, incrédulo.
Era impossível! Ela o vira? Sabia que ele a seguira? Em pouco tempo, ela desapareceu da janela, a porta da frente se abriu e ela apareceu no portão.
-Por que não me deixa em paz, Narciso?
-Sua, sua... Você é o que, Cassandra? Bruxa, vidente? Pode adivinhar o futuro?
-Por que não vai para o inferno?
-Você me infernizou primeiro, Cassandra! Você me infernizou e não quer que eu venha tomar satisfação?
-Quem começou a infernizar a vida de quem, Narciso? Você que começou!
-E o que você quer, Cassandra? Acabar com minha vida?
-Tudo o que eu quis foi dizer que eu sei que foi você!
-Vai fazer o quê? Dizer a todo mundo, sua bostinha?
-Alguém acreditaria se eu dissesse a coisa horrível que você fez, seu sujo? E eu não faria isso, porque não sou como você!
-Você me paga, ouviu?
-Vou pagar por quê? Por ter dito a você que eu sei?
-O que você sabe, afinal?
-Que a vida de alguém foi destruída!
-Cassandra, não há nada que possa ser feito em relação a isso!
-Não, não há! Mas você está dizendo isso para dizer que, já que o que está feito é irreversível, por que se preocupar com isso, não é? O que lhe importa é que ninguém saiba para que você possa seguir a sua vida sem problemas!
Baixando a cabeça, Narciso pensou, os ombros tensos. Ao falar, a voz estava calma.
-Cassandra, eu nunca tive nada contra você. Por que não esquecemos tudo isso? Eu não sei como você descobriu, mas pense bem? o que virá de bom se todo mundo acabar sabendo? Eu vou sofrer, meus pais vão sofer, você vai sofrer. Acha que gostam de dedos-duros? Ser dedo-duro não vai fazer os outros gostarem de você. Já não a chamam de esquisita? Do que adianta desenterrar esta história?
-Para mim, isso é impossível! Eu não consigo olhar para você sem morrer de nojo!
-Você acha que eu queria que isso acontecesse?
-Devia ter pensado antes!
-Está certo, eu devia ter pensado, mas não pensei! E você pode ter nojo de mim, cuspir na minha cara e me chamar das piores coisas!
-Pois agora, eu vou entrar! Quanto a você, vá embora, idiota!
-Agora que eu sei onde você mora, não vai se livrar de mim, bostinha! Vou...
-Cale a boca e vá para o inferno!
Narciso fez um gesto obsceno e Cassandra o olhou com desprezo, entrando em casa.
A raiva de Narciso fez suas entranhas se revirarem. Cassandra o desafiava abertamente, além de deixá-lo curioso.
"Ninguém consegue surpreendê-la, ninguém. Essa menina tem algo de diferente, mas o quê?"
Submited by
Prosas :
- Login to post comments
- 692 reads
other contents of Atenéia
Topic | Title | Replies | Views | Last Post | Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Prosas/Thoughts | De repente | 0 | 1.515 | 11/16/2015 - 10:43 | Portuguese | |
Prosas/Contos | Decisão | 0 | 2.453 | 06/22/2016 - 21:13 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | Definição de solidão | 0 | 709 | 10/05/2014 - 15:36 | Portuguese | |
Poesia/Gothic | Descanso eterno | 0 | 1.537 | 08/12/2016 - 12:32 | Portuguese | |
Críticas/Books | Desejos e frustrações | 0 | 4.955 | 08/28/2016 - 10:38 | Portuguese | |
Poesia/Gothic | Desolação | 0 | 858 | 08/27/2014 - 21:18 | Portuguese | |
Críticas/Movies | Despertando o entusiasmo adormecido | 0 | 1.703 | 08/16/2014 - 20:07 | Portuguese | |
Críticas/Movies | Despertando o entusiasmo adormecido | 0 | 2.724 | 08/16/2014 - 20:07 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | Destruindo a mim mesma | 0 | 2.110 | 06/26/2015 - 14:25 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | Deus não nos salvou | 0 | 1.086 | 01/01/2014 - 12:35 | Portuguese | |
Poesia/General | Dias e noites | 0 | 848 | 08/08/2014 - 01:33 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | Diferença | 0 | 1.044 | 08/28/2016 - 10:40 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | Disillusion | 0 | 3.685 | 04/30/2011 - 00:48 | English | |
Poesia/Meditation | Dispersa | 0 | 1.395 | 03/21/2016 - 20:03 | Portuguese | |
Poesia/Gothic | Doces lamentos | 0 | 1.348 | 08/05/2016 - 18:56 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | Don't ask me to forgive you | 0 | 4.457 | 04/07/2015 - 14:04 | English | |
Poesia/Disillusion | Don't break me | 0 | 3.490 | 06/28/2016 - 10:31 | English | |
Poesia/Disillusion | Don't call me anymore | 1 | 4.862 | 03/14/2018 - 13:22 | English | |
Poesia/Disillusion | Don't call me anymore | 0 | 4.708 | 08/22/2016 - 14:37 | English | |
Poesia/Disillusion | Don't come back to me | 0 | 4.676 | 11/17/2016 - 16:11 | English | |
Poesia/General | Don't force me | 0 | 4.812 | 08/19/2012 - 19:05 | English | |
Poesia/Gothic | Don't hide your tears | 0 | 3.611 | 11/03/2014 - 14:08 | English | |
Poesia/Disillusion | Don't leave me here | 0 | 4.926 | 11/22/2013 - 10:49 | English | |
Poesia/Meditation | Don't lie to me | 0 | 3.331 | 12/02/2015 - 20:39 | English | |
Poesia/Sadness | E os dias passados... | 0 | 1.560 | 05/01/2016 - 10:19 | Portuguese |
Add comment