O fantasma da velha escola - 19

A mãe de Lilith entrou no quarto às pressas, vendo-a caída no chão, de olhos arregalados e berrando:
-Ele morreu! O Alfredinho morreu!
-Lilith, querida, que está havendo?a mulher se ajoelhou, abraçando-a.
De repente, Lilith saiu do transe e falou entre lágrimas, os olhos arregalados olhando dentro dos da mãe:
-Mãe, o José Afonso e a menina mataram o Alfredinho! Ele caiu da escada como eles caíram!
-Calma, minha filha, eu estou aqui.
Por um longo tempo a mulher ficou abraçada á menina que chorava sentindo  uma dor além de qualquer consolo. Delicadamente, a mãe ajudou Lilith a levantar, colocando-a na cama.
-Querida, tente se acalmar.
Lilith não prestou atenção à mãe, que lhe segurava uma das mãos e acariciava seus cabelos, mas a Alfredinho, cujo espírito, contemplando o corpo inerte, ajoelhava-se e gritava em completo desespero:
-Eu estou morto! Seus desgraçados, vocês me mataram!
José Afonso e a menina riam do desespero de Alfredinho, que chorava de joelhos ao lado do seu cadáver enquanto os estudantes se amontoavam, gritando:
-Ele está morto!
-Vai assombrar a escola!
Marcão, atordoado, desabou de joelhos, mergulhando num estado de catatonia.
-Não, eu não quero mais ver! Lilith se debateu nos braços da mãe, que perguntou, preocupadíssima:
-Lilith, o que você não quer ver? Quem matou quem?
A visão foi se desfazendo e Lilith olhou para a mãe, que estava assustada.
-Lilith, você está suando frio!
-Mãe, o Alfredinho está morto! A menina e o José Afonso o empurraram da escada!
-Calma, querida.
-Não posso ficar calma, mãe! A vingança do José Afonso não acabou! Ele quer que o Marcão pague até o fim da vida!
Alarmada, a mulher deu um calmante à menina, ficando com ela até que adormecesse. Depois, ligou para o marido, contando tudo.
-Jônatas, estou preocupada com a Lilith. Ela falou que o Alfredinho morreu.
-Maria Eva, você acha que ...
-Que o fantasma do José Afonso se vingou? O que mais pode ser?
-Bem, tenho uma ideia. Ligue para a escola, dizendo que a Lilith não foi hoje nem poderá ir amanhã por estar doente. Talvez digam algo, se houver acontecido.
-Está bem, vou ligar.
-Vou voltar mais cedo. Até logo.
-Até logo, querido.
Sabendo que, se algo realmente houvesse acontecido, logo ela iria saber, Maria Eva ligou para a secretaria da escola.
-Alô.atendeu uma voz de mulher.
-Alô. Sou mãe de uma aluna, a Lilith. Eu queria comunicar que ela não foi hoje nem poderá ir amanhã por estar doente.
-A senhora não tem que se incomodar. Hoje, um aluno morreu caindo da escada e não vai haver aula amanhã.
-Morreu um aluno?!assustou-se.
-É, um rapaz chamado Alfredo. é o segundo aluno desta escola que morre tragicamente. Meu Deus, ele era colega do que se chamava José Afonso, que encontraram morto na velha escola fechada.
-Meu Deus, que tragédia! Obrigada, tchau.
-Tchau, senhora.
Com as mãos trêmulas, Maria Eva recolocou o telefone no lugar e foi dar uma olhada em Lilith. Sua filha adotiva dormia, mas o sono não era tranquilo.
-Meu Deus, por que uma criança como a Lilith tem que sofrer tanto? É muito peso para os ombros dela!
Quando o marido chegou, foi até ele, contando:
-Querido, o Alfredinho está morto.
-Como é?! Então...
-Sim, foi como a Lilith disse.
-E agora? O que será de nossa filha?
-Talvez devêssemos tirá-la da escola.
-Seria muito pesado para ela continuar ali depois de tudo que houve. Vou me encarregar disso depois do enterro do Alfredinho.
-Mas Jônatas, ela continuará vendo gente que morreu.
-Eu sei, mas isso é algo com que teremos de lidar. Enquanto formos vivos, nós a ajudaremos. Depois, eu não sei.
Em seu quarto, Lilith despertara e, ao abrir os olhos, viu Alfredinho ao lado da cama.
-Alfredinho...
-Lilith, os dois fantasmas me mataram.
-Eu sei, eu vi. Eles me mostraram.
-Malditos, eu os odeio!
Lilith sentou na cama e falou:
-Alfredinho, chega! Tudo começou com ódio! Primeiro, foi o ódio da menina; depois, o do José Afonso! Agora, será seu ódio que dará continuidade a esse círculo maldito!
-Mas Lilith, eu estou morto por culpa deles!
-E você poderá mudar isso? Alfredinho, você não pode voltar à vida, assim como você não pode se isentar da responsabilidade por seus atos! Você também errou indo àquele lugar e não procurando a polícia para contar o que tinha acontecido com o José Afonso! Você é livre, podia não ter ido!
-O Marcão me paga!
-Não acha que ele já está pagando?
-Não o suficiente.
O fantasma de Alfredinho sumiu e Lilith viu a porta do seu quarto se abrindo. Eram seus pais, preocupados.
-Querida, com quem você falava? o pai estava tenso.
-Com o Alfredinho, pai.
-Será que não a deixarão em paz?a mãe sentou ao seu lado, abraçando-a.
-Não sei, mãe.

 

Submited by

Saturday, September 5, 2015 - 19:35

Prosas :

No votes yet

Atenéia

Atenéia's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 7 years 6 days ago
Joined: 03/21/2011
Posts:
Points: 2453

Add comment

Login to post comments

other contents of Atenéia

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Erotic Ternura selvagem 2 2.771 03/29/2011 - 20:31 Portuguese
Poesia/Meditation alone 1 2.281 04/03/2011 - 03:03 English
Fotos/Personal The woman of black cat 1 4.405 04/03/2011 - 22:19 English
Críticas/Movies Situação extrema 1 3.473 04/04/2011 - 09:22 Portuguese
Críticas/Movies A inevitável comparação 1 3.199 04/10/2011 - 05:29 Portuguese
Críticas/Books Mergulho na dor 0 2.853 04/27/2011 - 10:24 Portuguese
Poesia/Gothic My love. 0 4.671 04/28/2011 - 21:08 English
Poesia/Disillusion Disillusion 0 3.633 04/29/2011 - 23:48 English
Anúncios/Miscellaneous - Offers Translation 0 6.513 04/30/2011 - 13:47 English
Anúncios/Miscellaneous - Offers Lessons on-line 0 7.618 04/30/2011 - 13:59 English
Poesia/General Beasts 0 3.575 05/06/2011 - 22:51 English
Críticas/Miscellaneous Um aspecto do Superman 0 3.345 05/07/2011 - 09:28 Portuguese
Poesia/Fantasy Meu pesadelo 0 2.077 07/27/2012 - 10:34 Portuguese
Anúncios/Miscellaneous - Offers Translation 0 7.187 07/28/2012 - 10:22 English
Poesia/Gothic The ghosts 0 2.844 07/28/2012 - 10:27 English
Poesia/Love You're here with me 0 2.832 07/31/2012 - 10:44 English
Críticas/Movies A princesa rebelde 0 2.666 08/12/2012 - 09:53 Portuguese
Críticas/Movies Os limites da vingança 0 3.123 08/13/2012 - 14:48 Portuguese
Poesia/Meditation Want peace 0 3.798 08/14/2012 - 13:41 English
Poesia/General Conheçam-me 2 2.076 08/14/2012 - 21:07 Portuguese
Poesia/Meditation Oceano 0 2.243 08/16/2012 - 10:10 Portuguese
Poesia/Acrostic Amor 0 2.152 08/16/2012 - 10:13 Portuguese
Poesia/Gothic Precisamos mudar 1 2.785 08/18/2012 - 18:41 Portuguese
Poesia/Love Just another day 0 3.522 08/19/2012 - 11:48 English
Poesia/General Don't force me 0 4.746 08/19/2012 - 18:05 English