No caminho das pedras brilhantes (São Thomé das Letras)

I

Dizem que Deus destruirá o mundo:
Lágrimas serão choradas pelas calotas polares,
Dos olhos tristes de um Deus arrependido,
Na sua imensa depressão por amar o seu filho – o homem.
Não sei bem se Deus criou o homem
Ou se o Homem foi o inventor de deus,
Só sei que o fim está profetizado assim...

Que venha o juízo final!

Desligue o motor e deixe o carro
Ir contra a força da gravidade.
São Thomé é a força que te atraí;
A cidade-pedra suspensa pelas mãos do Atlas.
Se ficarmos, veremos esta terra tornar-se o Hades
(a morada dos mortos)
E daqui, agonizando até a morte
Veremos a cidade-pedra nos ares,
Só, tão só, e salva.

Lá, minhas Letras estão a salvo,
Lá, outras letras já se salvaram.

À noite caminharei sobre as pedras
E minhas botas ecoarão gritos na eternidade,
Ouvirei música e beberei Vodka no 2.
Lá, o ar é dionisíaco
E as noites são repletas de discos voadores,
As estrelas descem até as palmas de nossas mãos.
Veremos os vaga-lumes das pedras
Sob a luz do luar.

O Ventania não sopra ventos ou tempestades
Ele sopra ventos de músicas numa tempestade de melodias.
Seus dedos dedilham uma viola
Num carinho nos cabelos de São Thomé.

Quando tão só eu estiver,
Tão só a ponto de suicidar
Irei para o Véu da Noiva
E enroscar-me-ei no corpo nu e molhado
Da dama de cabelos loiros dourado
Que da cascata é excitada.
A verei como quem vê num irresoluto e drogado tormento sintético:
Simplesmente bela
Simplesmente eterna.

II

No verde opaco das serras disformes,
Seres dispersos trafegam à procura de algo,
Alguns querem encontrar o Céu,
Outros apenas a Vida
E outros ainda a Existência,
Mas todos encontram “apenas” a si mesmos.

Gnomos habitam o escuro castelo de pedras
E escondem-se nas luzes confusas.
A pizza, meus caro, é ótima!

Roupas de estranhas raças enfeitam as ruas,
Cristais de diversas espécies ornam a lua.

Grutas de assombrosas lendas mistificam os pensamentos,
Casa – metafísica no quintal da sutileza ou da transcendência.

Escorregarei pela fissura dentro da rocha
Até cair nas águas límpidas.
Os seres comuns buscarão no templo do fumo
A fuga de seus estados de nascimento.

(...) Profundo, profundo, profundo é o meu pensar.
Meus pensamentos são pernas que não se cansam
De subir rochas, pular as pedras dos riachos,
De tropeçar no infortúnio, caminhar pela poeira vermelha da estrada
Até encontrar o caminho das pedras brilhantes (...).
Eu não quererei alegrias e nem significados simples das coisas.
Eu desvendarei enigmas da alma usando
O fino lenço de cristal em baixo da língua.
Quero a glória de quem olha para além daquilo que é,
Quero o sonho mais louco fora do sono,
Quero o pior dos pesadelos até acordar das 12 horas
Em um mar de lágrimas.
Quero o amor sem promessas,
Um amor diferente deste amor que todos falam, que todos recitam,
Que todos vêem, que todos não vêem,
Que existe e que não existe.
Quero que minhas retinas encontrem o indecifrável
E tragam para o meu tradutor cérebro - universo
Transformando-o num louco cálculo esotérico e simples.

A alegria virá de um eclipse – rápido e intenso,
Não em largos sorrisos, nem dum festejar de amigos e parentes,
Mas sim de uma tênue satisfação de estar, simplesmente estar
De ser, simplesmente ser
De fazer, simplesmente fazer...
Parte de tudo.

Tudo se aflorará, tudo se revelará.
Não morrerei pela culpa da idade
Não culparei a idade pela morte
Morrerei pelo sublime desejo de estar onde poucos estão.

Dou um salto para cair em águas límpidas:

Na pirâmide de pedras assistiremos o alvorecer
Num vermelho sono vazio da terra,
Na terra-lama da maldade presa num pranto.
Ninguém pode salvar o velho mundo,
Salvo São Thomé das minhas Letras.

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Thursday, December 17, 2009 - 00:02

Ministério da Poesia :

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