Luz fugitiva

 

 

Névoa circular.

Em êxtase de sombras fundidas
revolvi no fundo solista de uma palavra
o manto que cobria a espada
                                              entre(aberta)

no relevo da luz fugitiva.

 

Quis que no imperativo       p  o  r  o  s  o          da tua alma
se fizesse sentir a amalgama agreste
em que se transformou o perímetro altivo
do meu ego caducado.

(por atroz acto de vandalismo para as pálpebras).

 

Névoa quadrada.


Esperando que a noite não queimasse
Deambulei pelos arcos em chamas
que a flecha duplicada
                                carimbou

(em vitrine esguia de passo certo, falso).

 

Quando entrei no espaço
Vi-me surpreso com o diâmetro do quarto lacrimejante
e com os traços de bolor nos lençóis de seda

                            d  i  s  p  e  r  (sos).     

 

Escorria cera do prato de cristal
pousado nas memórias atrás do vidro:
                                                          milimétricas, ocasionais,
                                               submersas, fatais.

 

Névoa triangular


Deitei-me  no chão afagado

pela luz fugitiva do desejo
e descobri que na minha pele
cresciam dúvidas que o ar rarefeito

na fenda      o
                        b
                           l
                              í
                                q
                                    u
                                       a,
                                                   quase cega,

                 por pouco não me matava.

 

Três pontos na parede:
                                     Face projectada
                                     Dimensão inacabada
                                     Nu integral.

 

A música escorria pelos alvéolos pulmonares.
Eu sabia-te mulher verdadeiramente  sibila e consciente
do trajecto futuro do meu respirar
                                                        enleado

numa apneia palpitante


                                       constante
                                       constante
                                       constante.

 

(Horas em ligação ao espectro das nuvens carregadas).

 

Névoa octogonal

Depois das feridas deixadas pelas tuas garras de lítio,
difundidas pela tua voz geneticamente manipulada para doce...

 

                                 Sonhar...

É campo minado de gelo afiado pela retina solúvel na mágoa
É montanha com pico de agulha que perfura a escarpa medular
É amplo e vazio deserto numa tábua rasa de água
É vale sombrio que desgasta a verde esperança de acordar.


É enxame de abelhas que me ultraja e me desfaz em ínfima poeira
É profunda bruma num derrame de quase bárbara claridade
É voo que se despenha em terras férteis cobertas de cidreira
É um luto permanente num moinho de lágrimas sem acuidade.


                                         NÉVOA.

 

Duas asas com plumagem tingida com o veneno da ternura
Um palácio sem marés,
                                       um castelo sem convés,
                                                                                uma muralha sem pés.

 

Solavancos na tíbia
archotes no perónio,

 

                                           um sorriso sensual
                                       com sotaque de demónio.
                                 Um peito como lingotes mágicos
                                      uma atracção apaixonante
                                         pelos momentos trágicos.

 

                                (rumo ao fruto sumarento do declínio)

 

O túnel.

 

A casa do avesso
em traços e pontos subtis.

 


A cortina escurecida.                                                 A cortina escurecida.
                                                          Contínua.

 

A madeira rangendo nos dentes do grito.
A cave anelar dos teus segredos.
O muro instransponível da tua frieza mármore.

 

Sedento,
o jardim esquecido sabe de cor a minha amargura.

 

(Ainda caem aviões sobre o Atlântico
e há aracnídeos na sola dos meu chinelos temperados de sal).

 

Névoa. Sangue.
Compressas que não estancam a hemorragia da saudade.

 

                                              Em mim...


                                                              Luz fugitiva.

 

 

rainbowsky

 

 


 

   

 

 

 

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Jueves, Julio 28, 2011 - 22:47

Poesia :

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Névoa que não deixa a luz

Névoa que não deixa a luz entrar
Círculos e círculos
De dor...
Desilusão

Confesso que por o poema ser muito grande baralho a historia,

Que parece sempre cair na desilusão.

Cada poema parece ter o mesmo fim, Dor.


Talvez a Luz fugidia seja aquela que por vezes não deixamos entrar na janela.


Gosto sempre de te ler,

Beijinhos grandes!


 

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A luz

Olá!

NEste caso não se trata de luz que não deixo entrar pela janela. Pelo contrário. É a luz que eu chamo e quero que entre que foge das minhas mãos e se afasta inevitavelmente.

Mas sim, é um poema que cai sempre na desilusão e está submerso pela dor da solidão.

 

A névoa é apenas a demonstração da dor que cega os olhos abertos.

 

Obrigado por me estares sempre aí, e aqui...

 

Beijo

 

rainbowsky

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