Salinas pluviais...

Como numa oração as lágrimas curvam-se,
ajoelham-se e agradecem a dor que as traz
e as faz de cristal liquido...
O perdão não as dissolve, nem as varre,
admira-as ao longe, subtil e doentio...
O frio envelheceu o amor,
num banco de um jardim sem flores,
onde as dores passeiam com os filhos aos domingos...
E as magoas são rebuçados que nos viciam,
numa tortura frágil de prazer aos bocados,
como palavras quebradas e mastigadas...
Os sonhos ambíguos acordam e anseiam a realidade,
num cansaço voraz de absentismo,
lavam-se em aguas sujas que não reflectem a vaidade de ninguém...
Ninguém faz falta a ninguém se formos nada,
um vazio desprovido de sentido que não se estica para tocar
ou alcançar o mundo ao lado...
Um estado gasoso lacrimejante, errante no sentir,
a desistir por dentro,
prisioneiros imutáveis de um tempo intemporal,
sequioso por definhar em rugas tristes,
porque a imortalidade é um castigo eterno...
E as lágrimas são fugas, sentimentos incontornáveis,
que rezam pelo desgosto do nosso rosto,
nos abençoam o corpo todo em agua benta e sal...
E nós mendigos dormindo em salinas pluviais,
pedindo aquele pouco mais que nos falta para sermos entrega,
porque a dor já não aguenta sofrer pelo amor que nunca chega...

Inês Dunas

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Jueves, Enero 26, 2012 - 15:08

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Adorei :)

Parabéns pela intensidade com que consegues passar a mensagem.

 

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