FOTOGRAFIA

 

 

Prédios crescem
Como cogumelos, por entre a floresta
De fábricas.

Aviões que passam,
Levando desconhecidos.

E as poucas árvores,
São de um verde envergonhado.

Novas pontes
De cimento-armado,
Têm gruas gigantescas,
A observá-las.                                              

E o Tejo vai correndo,
Vestindo manto azul, a lama.

Cristais de vidro,
Emitem sinais de presença –
Se lhes bate o sol;

Diversos sons,
Fazem-se anunciar –
Se o vento é de feição;

E há pardais
Esquecidos, nos andaimes.

Cruzam-se comboios,
E janelas de escritório.

E o riso escarninho,
O suor e os cigarros
De perfume barato, saem
P’rá rua, pelas condutas
Do ar, condicionado.

Entretanto lá fora,
O operário
Continua erguendo prédios,
Novas pontes,
E um Tejo adormecido,
Persiste no correr.

Cai a noite.

E o espectro das árvores
E das gigantescas gruas,
Deixam perceber melhor
O chilrear dos pardais,
Brincando nos andaimes.

Cruzam-se comboios, e pessoas,                           
Ironias,
Suor e cigarros
Embebidos de perfume,
No seu regresso a casa.

Está frio.

E os espasmos do motor,
Ao ser desligado, fazem
Vibrar o frágil metal
Das condutas, do ar condicionado.

Extinguem-se as últimas luzes
Tremeluzentes,
Dos escritórios...

E as janelas,
São como olhos vazios
De mosca.

Corro a persiana.

E enquanto escrevo
Este poema,
No sossego do meu quarto,
Lá fora as fábricas
Sabem-se ali,
E o cristal do vidro, no cair
Nos silos, faz-se anunciar –

Se o vento está de feição.

Deito-me.

E deixo-me embalar,
Num silêncio de ruídos conhecidos.

Regressam os aviões...

In Fotogravuras I
Jorge Humberto

Submited by

Martes, Enero 31, 2012 - 11:24

Poesia :

Sin votos aún

Jorge Humberto

Imagen de Jorge Humberto
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 5 años 14 semanas
Integró: 01/15/2012
Posts:
Points: 1844

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of Jorge Humberto

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Poesia/Meditación FEBRE 4 1.481 03/07/2012 - 14:11 Portuguese
Poesia/Amor FIGURA SONHADA 6 904 03/05/2012 - 16:33 Portuguese
Poesia/Alegria SORRISO 18 1.487 03/05/2012 - 11:57 Portuguese
Poesia/Meditación AQUI ME TENS 2 1.089 03/05/2012 - 11:40 Portuguese
Poesia/Pasión ARREMETIMENTO 4 1.512 03/05/2012 - 10:45 Portuguese
Poesia/Amor A GAIVOTA 6 1.183 03/05/2012 - 10:25 Portuguese
Poesia/Alegria DE MEUS DIAS FELIZES 4 1.128 03/04/2012 - 10:15 Portuguese
Poesia/Dedicada SANTA APOLÓNIA 0 817 03/03/2012 - 11:42 Portuguese
Poesia/Meditación As Máscaras... 4 906 03/03/2012 - 11:11 Portuguese
Poesia/Meditación A cidade é um prolongamento... 4 951 03/02/2012 - 10:07 Portuguese
Poesia/Meditación Em suas torres de marfim... 0 1.014 03/01/2012 - 13:36 Portuguese
Poesia/General O PASSEIO DO POETA 4 880 02/29/2012 - 11:10 Portuguese
Poesia/Amor A NÓS DISTANTE 4 1.791 02/29/2012 - 10:59 Portuguese
Poesia/Canción SEREI TUDO O QUE DISSER 2 1.244 02/29/2012 - 10:52 Portuguese
Poesia/General POEMA DE INVERNO 2 1.032 02/27/2012 - 14:09 Portuguese
Poesia/Pasión MULHER 4 1.034 02/27/2012 - 13:56 Portuguese
Poesia/Alegria AGRADECIDO À VIDA 0 1.260 02/27/2012 - 13:36 Portuguese
Poesia/Amor Revisitando Olvido 2 1.402 02/27/2012 - 11:20 Portuguese
Poesia/Meditación QUER ISTO QUER AQUILO 6 1.254 02/27/2012 - 11:16 Portuguese
Poesia/Dedicada O CACILHEIRO 2 1.097 02/26/2012 - 10:52 Portuguese
Poesia/Alegria O RIO QUE SE FEZ MAR 6 1.255 02/26/2012 - 10:45 Portuguese
Poesia/Amor ELE E ELA 4 939 02/25/2012 - 13:14 Portuguese
Poesia/Meditación SILÊNCIO 1 932 02/25/2012 - 13:08 Portuguese
Poesia/Intervención No maciço vertical da pedra... 2 1.092 02/25/2012 - 12:00 Portuguese
Poesia/General Noites brancas, 6 1.025 02/24/2012 - 17:06 Portuguese