Noite no campo de ti.
Deitar-me-ei em teu solo por apenas mais um dia, pois me cravam as rosetas de tua pele seca, desidratada e febril. Não posso adormecer em teus sonhos e sentir-me refeita ao amanhecer, pois teus espinhos ficam-me incessantemente e mesmo quando não estão, as pústulas que ficaram das perfurações anteriores vertem o sal de minha alma criando crostas azedas em minha costas nuas. Sou um ser em chagas, cuja saliva esgota-se a cada arranhão de teu solo. Não consigo mais sobreviver nesta sépsis de pelos nús que revoltos grudam-se às lembranças do que um dia foi um chão de alabastro alvo e liso.
Hoje sou o resultado da lepra que carrego, juntando os pedaços que doei pelo caminho, mas como carne espúria, foram queimados na fogueira das vaidades. Então cauterizo-me com as incandescentes brasas dos desejos que queimam minhas mãos burras, que querem agarrá-las sem proteção. Essa sou eu, um coração envolto em uma epiderme em chagas, queimando em ardente febre que consome as horas e os desalinhos de um ser que não se pertence, sem chão para deitar-se, nem catre para esgotar-se até a hora da morte. Por isso permaneço sobre este capim selvagem em que me deito e finco-me com as rosetas de teu chão. Mas mesmo assim, é melhor que estar morta e apenas, apenas a lembrança longínqua de pele exposta ao confortável sol primaveril na enseada do teu mar, onde deitávamos e éramos perfeitos e intocáveis, me conforta, a lembrança de nossos frutos que nasceram fortes a guisa do chão árido de nossas almas, me fazem ainda querer respirar.
Por isso ainda acredito em mais um dia e, mesmo agônica, deito-me à espera de um mágico remédio que cure minhas chagas ao amanhecer.
Há de se saber o destino da vida? Muito menos o caminho da morte. Estamos à deriva deste vendaval que varre os campos sem piedade.
Submited by
Poesia :
- Inicie sesión para enviar comentarios
- 1594 reads
Add comment
other contents of analyra
Tema | Título | Respuestas | Lecturas |
Último envío![]() |
Idioma | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Pasión | Loucura | 6 | 1.428 | 03/27/2010 - 18:37 | Portuguese | |
Poesia/Fantasía | Espumas à maré cheia | 6 | 1.916 | 03/27/2010 - 05:41 | Portuguese | |
Poesia/Fantasía | Eis que surge do nada o amor em minha morada | 5 | 1.777 | 03/27/2010 - 05:35 | Portuguese | |
Poesia/Fantasía | Beijo transatlântico | 6 | 2.028 | 03/27/2010 - 05:24 | Portuguese | |
Poesia/Dedicada | Casamento Poético | 17 | 1.284 | 03/25/2010 - 22:11 | Portuguese | |
Poesia/Erótico | Carta ao parceiro | 13 | 1.960 | 03/24/2010 - 17:22 | Portuguese | |
Poesia/Fantasía | Janela para o lírico. | 7 | 2.027 | 03/23/2010 - 21:45 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Nada resta | 9 | 1.081 | 03/23/2010 - 14:20 | Portuguese | |
Poesia/Pasión | Maldição das Moiras | 5 | 1.585 | 03/22/2010 - 19:21 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Inexorável ciclo | 4 | 1.168 | 03/22/2010 - 19:19 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Quatro estações_ Inverno. | 4 | 1.229 | 03/18/2010 - 19:31 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Ainda em mim... | 5 | 1.084 | 03/18/2010 - 19:20 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Ó meu coração... | 3 | 1.948 | 03/18/2010 - 19:16 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Resquícios de ti em mim... | 6 | 1.215 | 03/18/2010 - 19:16 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Análise pessoal | 6 | 1.378 | 03/17/2010 - 21:49 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Remoto controle | 5 | 893 | 03/17/2010 - 21:42 | Portuguese | |
Poesia/Pasión | Triste sina insana | 5 | 1.749 | 03/15/2010 - 21:35 | Portuguese | |
Poesia/Dedicada | Por ti | 7 | 1.014 | 03/15/2010 - 21:24 | Portuguese | |
Poesia/Dedicada | Henrique arauto do coração | 11 | 2.071 | 03/15/2010 - 16:22 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Amor universal | 11 | 1.713 | 03/13/2010 - 04:20 | Portuguese | |
Poesia/Tristeza | Coração frio | 5 | 1.455 | 03/13/2010 - 04:15 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | Tua voz do outro lado | 8 | 1.359 | 03/12/2010 - 18:17 | Portuguese | |
Poesia/Intervención | Ponto de mutação | 5 | 1.561 | 03/12/2010 - 02:56 | Portuguese | |
Poesia/Intervención | vida | 7 | 1.052 | 03/12/2010 - 00:05 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Entendimento | 9 | 1.960 | 03/10/2010 - 16:11 | Portuguese |
Comentarios
Re: Noite no campo de ti.
Tão triste que chega a doer-nos,
tão belo que me deixa sem palavras.
Gosto muito também de te ler neste registo.
Um beijo, Ana e... força!!!
Vóny Ferreira
Re: Noite no campo de ti.
"Por isso ainda acredito em mais um dia e, mesmo agônica, deito-me à espera de um mágico remédio que cure minhas chagas ao amanhecer."
Em teu texto, uma imensa dor e uma sempre esperança, força que nos permite continuar!
Um beijo, amiga, no aguardo deste mágico remédio!
Lila.
Re: Noite no campo de ti.
Um capitulo sugestivo, numa prosa intimista e alucinante na forma e na acção.
Sempre fantástico te ler!
Essa sou eu, um coração envolto em uma epiderme em chagas, queimando em ardente febre que consome as horas e os desalinhos de um ser que não se pertence, sem chão para deitar-se