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ELOGIOS VI

6

Aos annos do mesmo Senhor

(Recitado no Theatro do Salitre, era 13 de Maio de 1801

Interlocutores: AURORA. SECULO

Oh tu, prole recente, ultima prole
Do numen, que aniquila o bronze, o ferro,
Que absorve gerações, que exerce os Fados,
Que vae minando o seio á Natureza,
E como que assoberba eternidades!
Filho do Tempo, successor não duro
De seculo feroz, de irmão terrivel,
Que Europa mergulhou n'um mar de sangue,
Que a virtude, a razão, que as leis, e a gloria
Eclipsou, perseguiu, desfez sem pejo ;
Té -ao bojo infernal cavando abysmos,
As Furias arrancou da noute immensa.
As Furias, que, esparzidas no universo,
Todo em reino da morte o converteram:
Graças aos numes, o tyranno é cinza,
O Seculo do horror volveu ao nada;
Morta esperança de viçosos dias
Resurge devagar, se move a medo;
Imagem festival de bens vindouros
Na terrea superfície em fim vislumbra:
Por sombrio horisonte apenas ficam
Rastos sanguineos dos forçados vôos,
Com que a fera Discordia, a negra Erynnis
Da peste, que em seu halito dardejam,
Extensas regiões purificaram.

Mas os tartáreos monstros não repousam.
Nas extremas da terra inda retumba
O medonho clamor, que sáe do raio.
Talvez nova impiedade enlute o globo,
Talvez. . . tão feia idéa os raios furta
Da face com que alegro a Natureza.

Ah! Tu que aos penetraes do immobi! Fado,
Lá onde o pensamento a custo adeja,
Foste a serie colher, serie sem conto
De altos successos, em teu giro inclu-os:
Tu que estancia onde os Futuros dormem,
Com lume audaz a escuridão venceste,
E o gremio do possivel revolvendo,
Soubeste se a Ventura, ou se a Desgraça
Deve sobre esta machina indecisa
Reger sceptro de ferro, ou sceptro de ouro:
Recrêa, oh numen, cujas leis supremas
Observo pontual na rósea plaga,
Recrêa indagador, tenaz desejo,
Abrindo aos olhos meus clarão futuro.

SECULO

Deusa brilhante, que ataviam, cobrem
Grinalda de jasmins, docel de rosas.
Mãe dos luzeiros com que douro as vestes:
Amores de Titão, delicias, mimo,
Que aljofares entornas sobre as flôres.
Que dás puros cristaes ao leve arroio,
Susurro ás virações, gorgeio ás aves,
E o gosto de existir á Natureza !
Bem que os mysterios do immutavel Fado
Envolva escuridão, e acatamento,
Que do mundo profano abate os olhos.
Comtigo, que és deidade, e secia minha,
Comtigo, que do Tempo exerces parte.
As leis universaes vogar não devem.
Enxuga o dôce pranto cristalino,
Que entre as flôres de Amor, e a neve, e as graças
Na face te reluz: socega, escuta.

Aos montes sempiternos, onde o Fado
Em palacios de bronze as leis promulga,
Resfolgando subi, subi tremendo
Dos males, que este globo inficionavam,
Onde meu féro irmão cevára os olho?.

Do gran templo fatal rangendo as portas
Se abrem de par em par, me descortinam
Aquelle, ante quem Jove é nume apenas.

Avulta, recostado em negro throno,
Curvos, absôrtos cortezãos o incensam,
D'um lado a vida tem, tem de outro a morte,
Um só rasgo que dê co'a férrea pluma
No livro pavoroso, altéra o mundo,
Ergue, prosta nações: a Gloria é sonho,
A Fortuna é chimera, e Grecia, e Roma
Relampagos, que sorve immenso abysmo.

A tôrva omnipotencia adoro a medo,
E já trémulas preces vou formando
A bem do triste globo, em que presido: .
Eis o deus co'um sorriso a voz desprende,
Dest'arte o coração me desaffronta:

«Fiel executor das leis do Fado,
Herdeiro do poder, não do caracter
De ministro cruel, que puz no mundo
Para mais enrijar meu duro imperio:
Depois que em scenas mil de sangue, e luto
Minhas furias cevei, cevei meus odios,
Os males que esparzi me horrorisaram.
Quanto póde a Virtude até no Fado !
Em honra de um mortal, me abrando a todos,
Em honra de um mortal, que um Deus parece.

«Ferrolhadas no Averno as Furias gemam,
A cruenta Discordia apague o raio.
Virtude, Paz, Amor, volvei ao mundo:
Tu, Seculo ditoso, ao mundo os guia;
Este mimo dos céos na terra espraia,
Enriquece com elle os climas todos,
E mais que todos a benigna plaga,
O imperio occidental, augusta herança
Do heróe, do semideus, que lá contemplo.

«O solio de João ladêe a Gloria,
A Justiça o ladêe: admire-o tudo;
Base de corações lhe escore o throno:
Só deixe de invejal-o apenas Jove.
O dia em que emanou do seio eterno
Seja um sorriso do melhor dos numes;
Galas para adornai-o invente a Aurora,
Saturno o purifique, e seu lhe chame.»

Disse, e nublou-se o deus, e de repente
D'entre os astros um vórtice me arranca.
Ufano do caracter, que me é dado,
Dos bens, que desparzir na terra posso.
Exulta, pois, oh deusa, e cumpre o mando,
Que ledo recebi na voz do Fado:
« O imperio de João, seus aureos dias
Gosem no mundo o resplendor do Olympo.»

AURORA

Oh transporte! Oh ventura! Oh céos! Oh Fado !
Sendo teu jugo assim, teu jugo adoro.

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domingo, outubro 18, 2009 - 20:38

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