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ELOGIOS XXII

22

Para servir de prologo á comedia
«O Extremoso»

(Representada no Theatro da Rua dos Condes, no anno de 1800)

Extremos, phrenesis, queixumes, prantos
Da funesta paixão, desejo insano,
Que envolto no prazer saltêa o peito;
Veneno abrazador, que os olhos bebem,
Que, disfarçado em nectar, se insinûa
No illuso coração, na mente absorta;
Sentimento oppressor da natureza,
Da vã philosophia em vão repulso;
Innata commoção contradictoria,
Fonte de crimes, de virtudes fonte,
O poder milagroso, inevitavel
De um sorriso, de um ai: divino encanto,
Cunho celeste, na belleza impresso;
Delicias, afflicção, fraqueza, e força,
D'entre um mesmo principio derivadas;
Raivosas sensações, não menos furias
Do que essas, que no Averno estão rugindo;
Chammas de tanto ardor como as que zunem
No tartáreo vulcão, de lava eterna;
O rei dos Males, o rival da Morte,
O Ciume, o teu raio, Amor tyranno,
Teu raio, que a Razão derruba, estraga,
Q'inda (oh pasmo! Oh terror!) depois de extincto
Deixa longo trovão soando n'alma:
Eis o quadro moral, de tristes côres,
Mas quadro proveitoso, interessante,
Que ao luso espectador se expõe na scena.
Benignos cidadãos, sensiveis entes,
Que das ternas paixões sabeis o custo,
A dôce tyrannia encantadora
Com que uns olhos gentís dominam tudo;
Extremosa nação, tu, que idolátras
Tenue cópia do céo na formosura;
Que elevas quasi além da Natureza
Os dous affectos em que os mais se absorvem:
Que tens no coração, que tens na idéa
Presos em laço de ouro Amor, e a Gloria;
Que, sentindo o que o mundo apenas sente,
Choras no damno alheio o proprio damno,
Nas fraquezas de um só vês as de todos,
Reconheces que amor é quasi um fado,
Um fado universal, que arrasta, e fórça
A' loucura, á desgraça, ao precipicio;
Que é despotico Amor, e o mundo escravo;
Que este imperio fatal não tem rebeldes,
Que a soberba Razão succumbe ao jugo,
E ás vezes (oh cegueira!) o jugo adora:
Extremosa nação ! No grande objecto
Emprega mudamente os olhos d'alma:
E' tão digno de ti, quam variado
De radioso matiz: verás que esmalte,
Que preço, que attracção, que luz confere
A' belleza exterior moral belleza;
Por entre desatinos da vontade,
Tumultos da paixão, sem lei, sem freio,
Por entre confusões, por entre sombras,
Que do cego amador o acôrdo enlutam,
Verás como florece, illesa, intacta,
A suave innocencia, inda mais bella
Se em lide porfiosa obteve a palma.

Virtude os meios ama, odêa extremos,
Extremos, são no mundo ou erro, ou culpa:
Do mesmo que abrilhanta a humanidade
Longe, longe, oh mortaes, o injusto excesso!

Dramaticas acções tem só por alvo
O proveito commum: sarar costumes
Quando enfermos estão; com riso, ou chôro,
Com brandura, ou terror, fazer que brilhe,
Que triumphe a moral d'aqui se colhe
Lição profícua, prestadio exemplo.
A escola da verdade está na scena,
E tão pasmoso effeito ás vezes brota,
Que a virtude se aprende até no vicio.

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domingo, outubro 25, 2009 - 16:59

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Bocage

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