Entre Estranhos

Com olhar turvo
Turvo pelo dia que cede a noite
Turvo pelo escuro das pessoas a volta
Longas passadas e nenhum olhar a volta
Dia após dia,as mesmas idas e voltas

O manto escuro dos casacos no mesmo sentido
Outro manto escuro noutro sentido
Conversas curtas,rostos fechados
Sob jornais abertos,rostos escondidos

Esse Inverno que me deprime e me mofa
Que me faz sentir ainda mais longe da casa
Esses dias que se tornam em noites sem fim
Que me fazem sentir nos confins

Esse chuvisco gelado intermitente
Que me lembra a nossa chuva quente
Esses rostos tenebrosos e tristes
Oh, que tão saudoso estou da alegria da nossa gente

A minha familia,a minha infância,
Os meus amigos, a minha adulescência
O meu Bairro,as minhas escolas
As minhas derrotas,as vitórias e as conquistas
Os medos e as lutas
As minhas paixoes e amores
Os meus lugares
Onde me fiz homem
La deixei parte de mim que hoje procuro além

A metade lutando para se adaptar sem metade
Assimilando para ser como os seres que cruzo
Tentando ignorar o grito aguniado do meu ser sofrido
Inadapdato e arrastando vencido
Fustigado pela saudade e pela distância

Oiço os cânticos das mulheres com o pote na cabeça
As crianças descalças jogando na rua
Os homens com arrados sob os ombros
Outros na sombra do mangueiro tecendo panos
E como brincávamos as escondidas ao luar

Entre estranhos nas entranhas do abismo
Definhando a cada lágrima
Sufocado pela ausência de mim mesmo
Do cheiro da terra molhada
Do pôr de sol atràs da tabanca

Lá vou eu, levado pelos casacos escuros
Por este escuridao debaixo do céu carregado
Lugares sombrios que me mantêm o olhar turvo