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A verdade incómoda
Ontem desenhei-te com as mãos,
de olhos fechados, memória em alerta
Os meus dedos flutuaram no ar explorando os teus traços
e os meus lábios humedeceram a cada descoberta
És feito de ar e de ar que provém dos sonhos
e por tal, não existes!
Ainda que pense em ti sem qualquer fundamento
Ainda que utopicamente respires dentro de mim
Ontem, eras uma ideia fixa, um devaneio
Vi-te de olhos fechados, memória desperta
O meu corpo sucumbiu e o meu espírito deslizou no infinito
Ainda que não existindo, encontrei-te!
Ao ver-te, recordei como são feitos de ar todos os meus sonhos,
fluidos que persistentemente respiro
Ilusões que cultivo apenas para meu consumo,
Meio pelo qual mudo a forma e evaporo.
Ontem, fecharia os olhos a todas as tuas faltas,
selando-as com o lacre contido nos meus beijos
Na memória evitaria a sobrecarga e esquecendo
as tuas impurezas, receberia os teus desejos.
Mas eu vivo em torno do ar, alimentando o meu vício,
sem traficar sonhos, nem qualquer ilusão
A verdade torna-se incómoda e os traços desenhados
são linhas poucos seguras, perdem a coesão.
Ontem, pintei-te com os dedos,
a memória revelou os seus segredos
Hoje, o ar está impuro e contaminado sufoca
A verdade incómoda: o Amanhã já não importa!
Publicado no Blog Broken Wings e no Blog da PEAPAZ
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Ministério da Poesia :
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