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À noite no mesmo bar

Era inverno
À vários dias que já ameaçava chover
O nevoeiro confundia-se com o fumo dos escapes
Via-se a luz desfocada dos candeeiros
O brilho do ecrã de telemóvel
De uma puta da Rua Camões
E ouvia-se em todo o lado
Uma mulher louca aos berros
Vocês sabem, com aquela voz grossa de aguardente bagaceira
-Ei puta, vai trabalhar minha vaca,
Depois não queres levar no focinho.

Zeca tinha acabado de conhecer uma mulher
E minha nossa!
Ela era mesmo incrível
De sorriso bem torneado
Um par de mamas de bradar aos céus
Saltavam sempre para fora do casaco
Enfim…
Zeca cometera o erro de se apaixonar
E já nada havia a fazer.

Os dias foram passando
Lentamente felizes como nunca antes
Assim parecia aos olhos de Zeca
Que gostava de beber em excesso
Perdia-se em apartamentos de putas
A sua casa praticamente eram os bares e cafés
Onde se sentava a beber uma cerveja

Tudo corria bem
As saídas à noite com aquela miúda
Poucas mas suficientes
Para tornar cada momento único
As palavras entendiam-se
Tudo se espalhava como água cristalina
Ao longo de um ribeiro
Desbravando a virgindade dos campos
E por instantes
Parecia existir uma sensação
De que haveria bondade neste mundo

Como são fracos aqueles que amam
Com o coração
Nada entendem do que se passa em volta
E um beijo pode ser fatal
Para alimentar essa ideia ilusória
E quando damos conta
Encontramo-nos como um cadáver esquecido
Numa vala coberta de esgoto
Foi isso que aconteceu com Zeca
Foi isso que ele ganhou
Quando confiou a sua alma
Aquela mulher
Antes a tivesse vendido ao Diabo

Tudo acabou com a busca de respostas
Cada dia uma tortura constante
Cada minuto em reflexão do erro cometido
Talvez não fosse bom o suficiente
As pessoas que abominam a solidão
Buscam um egoísta convívio
E um relacionamento sério
Isso Zeca não podia oferecer

Afinal tinha começado a chover
Pequenas mas grossas gotas de chuva irritante
Entrou para um bar numa noite de feriado carnavalesco
O mesmo que tudo iniciara e tudo destruíra
Como de costume pediu um shot de whiskey
Esvaziou mais de meia garrafa de Red Label
Fumou um maço
E saiu lentamente pela porta de madeira
Que ao abrir fez um chiar que se ouviu
Pela rua solitária e húmida
Pensou para si próprio
Apertou os botões do casaco castanho
Já meio surrão
E disse
-Até amanhã, à noite no mesmo bar.
E assim se despediu de si mesmo.
 

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segunda-feira, março 28, 2011 - 18:42
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