ÁFRICA

Na África, outra tarde termina,
Aquecido, o ferro da carabina,
- Pela horrenda emboscada!
Enrubesce os arbustos nus,
Folhas devoradas por gnus,
- Em sua longa jornada!

Rugi o rei de pelo pardo,
E a poeira que deixa o guepardo,
- Embuça o cipreste!
Já anoitece na Savana,
Descansa a grande caravana,
- No silêncio do Serengeti!

Mas não basta o sangue de outrora,
No breu, no adiantar da hora,
- O safári continua!
A língua de fogo candente,
Morde a caça qual serpente,
- Manchando a terra nua!

Rio de sangue no Massai Mara,
Na mortandade que não para,
- Pesadelo sem fim!
Choram as mães elefantes,
Ao ver órfãos os infantes,
- Pelo branco do marfim!

Lembra-te a corrente da escravidão?
Da Nigéria até o Gabão,
- A vergonha do novo mundo!
Agora sorve o marfim e a pele,
E o sangue que te embebe,
- Deixa um sinal imundo!

Debruçada nas asas da quimera,
Repousa sonolenta pantera,
- Contemplando o amanhecer!
Olha triste a Savana devastada,
E por toda África amortalhada,
- Uma prece a percorrer!

Oh Senhor, basta de tanto mau,
Limpe o pecado original,
- Como Monte Vesúvio!
Renasça a antiga profecia,
Afoga a ganância e a heresia,
Nas lágrimas do dilúvio!