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Antoine de Saint-Exupéry- O Principezinho

… as pessoas crescidas estão sempre a precisar de explicações.

As pessoas crescidas nunca entendem nada sozinhas e uma criança acaba por se cansar de lhes estar sempre a explicar tudo. Vivi durante anos e anos no mundo das pessoas crescidas.

Vivi durante anos e anos no mundo das pessoas crescidas. Vi-as de bem perto. Não fiquei com muito melhor opinião delas. (…) Foi assim que vivi sempre sozinho (…)

Quando um mistério é grande de mais, não nos atrevemos a desobedecer.

(…)É que eu gosto que as minhas desgraças sejam levadas a sério.

(…) Mas ninguém o levou a sério por causa da maneira como estava vestido. As pessoas crescidas são assim.

As pessoas crescidas gostam de números. Quando lhes falam de um amigo novo, nunca perguntam nada de essencial. Nunca perguntam: «Como é a voz dele? A que é que ele gosta mais de brincar? Faz colecção de borboletas?» Em vez disso, perguntam: «Que idade tem? Quantos irmãos tem? Quanto é que ele pesa? Quanto ganha o pai dele?» Só então julgam ficar a saber quem é o vosso amigo. Se contarem às pessoas crescidas: «Hoje vi uma casa muito bonita de tijolos cor-de-rosa, com gerânios nas janelas e pombas no telhado...», as pessoas crescidas não conseguem imaginá-la. Precisam de lhes dizer: «Hoje vi uma casa que custou cem mil contos.» Então já são capazes de a admirar: «Mas que linda casa!»

As pessoas crescidas são mesmo assim. Não vale a pena zangarmo-nos com elas. As crianças têm de ser muito indulgentes para as pessoas crescidas.

O meu amigo já se foi embora há seis anos com a sua ovelha. Se o tento descrever, é só para não me esquecer dele. É tão triste esquecermo-nos de um amigo! Nem toda a gente teve um amigo na vida… E depois, posso ficar como as pessoas grandes que já não se interessam senão por números.

(…)O meu amigo nunca explicava nada. Talvez pensasse que eu era igual a ele. Infelizmente, não sei ver ovelhas através de caixas. Se calhar, estou um bocado parecido com as pessoas crescidas. Devo ter envelhecido.

Às vezes não faz mal nenhum deixar um trabalho elaborado para depois (…) Queria precaver os meus amigos contra um perigo terrível que nos ameaça sabe-se lá desde quando, sem que nenhum de nós suspeitasse.

Sei de um planeta onde há um senhor todo afogueado. Nunca cheirou uma flor. Nunca olhou para uma estrela. Nunca gostou de ninguém. Nunca fez senão contas. E, tal como tu, passa o dia a dizer: “Eu sou um homem a sério! Eu sou um homem sério!” Mas aquilo não é um homem!

Amar uma flor de que só há um exemplar em milhões e milhões de estrelas basta para uma pessoa se sentir feliz quando olha para o céu. Porque pensa: «Ali está ela, algures lá no alto…» Mas se uma ovelha comer a flor, para essa pessoa é como se as estrelas se apagassem todas de repente!

É tão misterioso o país das lágrimas!

(…) mas a flor nunca acabava de se arranjar, de se pôr bonita (…)
- Ai! Ainda mal acordei... Peço-lhe que me perdoe... Estou toda despenteada...Mas o principezinho não pôde conter a admiração :
- Mas que flor tão bonita!
- Lá isso é verdade... - respondeu ela, com uma voz muito suave.
- E nasci com o Sol...
O principezinho suspeitou logo que a modéstia não devia ser o seu forte; mas era tão enternecedora !
(…) Não fui capaz de entender nada. Devia tê-la avaliado não pelas palavras e sim pelos actos. Ela perfumava-me e dava-me luz! Eu nunca devia ter fugido! Devia ter sido capaz de adivinhar toda a ternura escondida por detrás daquelas pobres manhas. As flores são tão contraditórias! Mas eu era novo demais para saber gostar dela.

Tenta ser feliz.

Ainda não tinha aprendido que o mundo se encontra extremamente simplificado para os reis. Todos os homens são súbditos.

Se eu ordenasse a um general que se transformasse em gaivota e ele não me obedecesse, o general não tinha culpa. Eu é que tinha.

Se eu ordenasse a um general que voasse de flor em flor como as borboletas, ou que escrevesse uma tragédia, ou que se transformasse em gaivota e se o general não executasse a ordem recebida, de quem era a culpa: minha ou dele?

Só se pode exigir a uma pessoa o que essa pessoa pode dar. A autoridade baseia-se antes de mais , no bom senso. (…)Eu tenho direito de exigir obediência porque as minhas ordens são sensatas.
- E então o meu pôr-do-sol? - lembrou o principezinho que, quando fazia uma pergunta, nunca desistia dela.
- Calma, que o hás-de ter. Eu assim o exijo. Mas a minha ciência da governação recomenda-me que espere pelas condições mais favoráveis.

É muito mais difícil julgarmo-nos a nós próprios do que aos outros. Se conseguires julgar-te bem a ti próprio, és um autêntico sábio.

As pessoas crescidas são mesmo muito esquisitas.

Para os vaidosos, todos os outros homens são admiradores.

Os vaidosos só ouvem os elogios.

Estás a fazer o quê? Perguntou ao bêbado.
-Estou a beber- respondeu o bêbado, com ar lúgubre.
-Estás a beber porquê?- perguntou o principezinho.
- Para me esquecer- respondeu o bêbado.
Para te esqueceres de quê?- perguntou o principezinho, que começava a ter pena dele.
-Para me esquecer que tenho vergonha- confessou o bêbado, baixando a cabeça.
- Vergonha de quê?- tentou saber o principezinho, cheio de vontade de o ajudar.
- Vergonha de beber!- concluiu o bêbado, fechando-se definitivamente no seu silêncio.

Calcula tu que o planeta cada ano gira mais depressa e as ordens nunca mudam!...

Às vezes, quando queremos ter graça, damos por nós a mentir.

Também se está sozinho ao pé dos homens.

Os homens? (…) nunca se sabe onde encontra-los. O vento leva-os de um lado para outro. Não têm raízes e isso é muito incómodo para eles.

Os homens têm cá uma falta de imaginação! Só sabem repetir o que se lhes diz…

E afinal tinha ali cinco mil rosas, todas iguais, ó num jardim.  (A massificação dos homens)

Julgava-me muito importante por ter uma flor única no mundo e, afinal, tenho uma rosa vulgar.

- (…) «Cativar» quer dizer o quê?
É uma coisa que toda a gente esqueceu- disse a raposa- Quer dizer «criar laços»
.…Criar laços?
Sim, laços - disse a raposa. – Ora vê: por enquanto tu não és para mim senão um rapazinho perfeitamente igual a cem mil outros rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto eu não sou para ti senão uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativares, nós passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E eu também passo a ser única no mundo para ti...
(…) Tenho uma vida terrivelmente monótona. Eu caço galinhas e os homens caçam-me a mim. As galinhas são todas parecidas umas com as outras e os homens são todos parecidos uns com os outros. Por isso, às vezes aborreço-me muito. Mas, se tu me cativares, a minha vida fica cheia de sol. Fico a conhecer uns passos diferentes de todos os outros passos. Os outros passos fazem-me fugir para debaixo da terra. Os teus hão-de chamar-me para fora da toca, como uma música. E depois, repara! Estás a ver aqueles campos de trigo ali adiante? Eu não gosto de pão e, por isso, o trigo não me serve para nada. E é uma triste coisa! Mas os teus cabelos são da cor do ouro. Então, quando me tiveres cativado, vai ser maravilhoso! O trigo é dourado e há-de fazer-me lembrar de ti. E hei-de gostar do som do vento a bater no trigo…
A raposa calou-se e ficou a olhar para o principezinho durante muito tempo. Se fazes favor… Cativa-me! – acabou finalmente por pedir.
Eu bem gostava – respondeu o principezinho, - mas não tenho muito tempo. Tenho amigos para descobrir e uma data de coisas para conhecer.
Só conhecemos o que cativamos - disse a raposa. - Os homens deixaram de ter tempo para conhecer o quer que seja. Compram as coisas já feitas aos vendedores. Mas como não há vendedores de amigos, os homens deixaram de ter amigos. Se queres um amigo, cativa-me!
E tenho de fazer o quê? - disse o principezinho.
Tens de ter muita paciência. Primeiro, sentas-te longe de mim, assim, na relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas podes sentar-te cada dia um bocadinho mais perto…
O principezinho voltou no dia seguinte.
Era melhor teres vindo à mesma hora - disse a raposa. – Por exemplo, se tu vens às quatro horas, às três já eu começo a estar feliz. E quanto mais perto for da hora, mais feliz me sinto. Às quatro em ponto hei-de estar toda agitada e toda inquieta: fico a saber qual o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca vou saber a que horas hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito... Precisamos de rituais.
O que é um ritual? - disse o principezinho.
Também é uma coisa de que toda a gente se esqueceu - disse a raposa. - É o que torna um dia diferente dos outros dias e uma hora diferente das outras horas.
(…)E o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da despedida:
Ai! – suspirou a raposa – Ai que me vou pôr a chorar...
A culpa é tua - disse o principezinho. - Eu não te desejava mal nenhum, mas tu pediste para eu te cativar...
Pois pedi – disse a raposa.
Mas agora vais-te pôr a chorar! – disse o principezinho.
Pois vou – disse a raposa.
Então não ganhaste nada com isso!
Ai ganhei, sim, senhor! - disse a raposa. - Por causa da cor do trigo… (…) dou-te um presente de despedida: conto-te um segredo. (…) É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos...(...)Os homens já se esqueceram desta verdade - disse a raposa. - Mas tu não te deves esquecer dela. Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que cativaste.

Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.

Nunca se está bem onde se está.

Era um vendedor de comprimidos para tirar a sede.    (O artificialismo do homem)

É  bom ter tido um amigo, mesmo quando se vai morrer.

O que torna o deserto bonito é ele ter um poço escondido algures por aí….

Casas, estrelas ou desertos, é tudo a mesma coisa: o que lhes dá beleza nunca se vê.

O que eu estou a ver não passa de uma capa. O mais importante é invisível…

Os homens bem se encafuam dentro dos comboios, mas já não sabem do que andam à procura. Andam sempre à roda…

Levei-lhe o balde à boca e ele bebeu de olhos fechados. Tão boa Tenho sede desta água - disse o principezinho. - Dá-me de beber...
E então soube do que ele andava à procura.
Levei-lhe o balde à boca e ele bebeu, de olhos fechados. Tão boa! Aquela água era muito mais do que um alimento. Nascera da caminhada sob as estrelas, do canto da roldana, do esforço dos meus braços. Era boa para o coração, como uma prenda. O mesmo se passava quando eu era pequeno: as luzes da árvore, a música da Missa do Galo e a ternura dos sorrisos é que davam o brilho todo ao meu presente de Natal.
- Os homens da tua terra são capazes de plantar cinco mil rosas no mesmo sítio... - disse o principezinho. - E, apesar de terem um jardim com muitas rosas, não descobrem aquilo de que andam à procura...
- Pois não... - respondi eu.
- E podiam descobrir aquilo de que andam à procura numa única rosa ou num único golo de água.
- Pois era - respondi eu.
O principezinho acrescentou:
- Mas os olhos são cegos. Só se procura bem com o coração.

Quando nos deixamos cativar, é certo e sabido que algum dia alguma coisa nos há-de fazer chorar.

- As pessoas têm estrelas que não são as mesmas. Para os viajantes, as estrelas são guias. Para outros, não passam de luzinhas. Ainda para outros, os cientistas, são problemas. Para o meu homem de negócios, eram outro. Mas todas essas estrelas estão caladas. Tu, tu vais ter estrelas como mais ninguém…
- isso quer dizer o quê?
-Tu, vais  ter as estrelas como mais ninguém...
- Isso quer dizer o quê?
- À noite, vais-te pôr a olhar para o céu, e porque eu moro numa delas, porque eu me estou a rir numa delas, então, para ti, vai ser como ser todas as estrelas se rissem! Vais ser a única pessoa do mundo que tem estrelas a rir!
Voltou a rir.
- E quando estiveres consolado (afinal acabamos sempre por nos consolar), vais ficar contente de me teres conhecido. Vais ser sempre meu amigo. Vai-te apetecer rir comigo. E, às vezes, sem mais nem menos, vais abrir a janela, só por ser bom… E os teus amigos vão ficar espantados por te verem a olhar para o céu e a rir. Mas tu dizes-lhes: “Pois é! As estrelas dão-me sempre vontade de rir!” E eles vão ficar a pensar que não estás bom da cabeça. Bela partida a minha…
E voltou a rir.
- É como, se em vez de estrelas, te desse quinhentos milhões de guizinhos a rir.

E, claro, agora já passaram seis anos… nunca contei esta história a ninguém. Quando voltei, os meus colegas tiveram uma grande alegria por eu não ter morrido. Eu estava triste, mas dizia-lhes “é do cansaço…”
Depois, fui-me consolando. Enfim… quase. Mas tenho a certeza absoluta de que o principezinho voltou para o planeta dele. (…) E, à noite, gosto de me pôr a ouvir as estrelas. São mesmo quinhentos milhões de guizinhos… Mas passa-se uma coisa extraordinária. Como me esqueci de pôr a correia no açaimo e como, sem correia, o principezinho nunca se pode ter servido dele, ando sempre com uma dúvida: a ovelha terá ou não comido a flor?
Umas vezes penso: “Claro que não! O principezinho põe a flor todas as noites debaixo da redoma de vidro e, de dia,não tira os olhos da ovelha…” E fico feliz. E todas as estrelas se põem a rir baixinho.
Outras vezes, penso: “Uma distracção e basta… se calhar, um dia, o principezinho esqueceu-se da redoma de vidro… ou a ovelha escapou-se-lhe de noite, sem fazer barulho…” E todos os guizinhos se transformam em lágrimas!
Que grande mistério! Vão ver que também para vocês, que gostam do principezinho, nada no Universo fica na mesma se algures, não se sabe bem onde, uma ovelha que nós não conhecemos tiver ou não comido uma rosa… Ora olhem para o céu e pensem: “A ovelha terá ou não comido a flor?” Vão ver como tudo muda…
E nunca nenhuma pessoa crescida há-de entender como isso é importante!
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sábado, janeiro 19, 2013 - 14:37

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