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DEIXEM FALAR AS PEDRAS

Deixem falar as pedras

Deixem falar as pedras.
E o que dirão elas?
Tão cortantes, tão finas,
Tão grandes ou pequeninas,
Tão feias ou tão belas?

Deixem falar as aves,
Em voos pelo ar, suaves,
Em voos altos ou rasantes
Em chilreios de amantes
Ou zangas graves.

Deixem falar as aves.
E o que dirão elas
Do que observam lá do alto,
Quase tocando as estrelas
Pousando-se nos beirais
Ou descendo sobre o asfalto
E atacando os trigais?

Deixem falar o arvoredo,
As árvores tão esguias
Que à noite metem medo
E no Inverno, com as ventanias,
Num mais forte arremedo
Deixam seu modo de ser tão quedo
(Mais duras do que um rochedo)
E vibram, dobram, caem, macias.

Deixem falar as flores,
Tão gentis, perfeitas,
Que com elas teu cabelo enfeitas.
São de todas as cores
E sabem todos os segredos
Dos zumbidores insetos
Para quem são pistas estreitas.

Deixem falar as crianças,
Nelas estão as nossas esperanças.
Suas palavras são meigas,
São sinceras, verdadeiras.
Na hipocrisia são leigas
E nas suas brincadeiras
Soltam-se-lhes as tranças,
Sempre vivas e trigueiras.

Deixem falar as crianças,
Ouçam-lhes os gritos!
Que sorrisos tão bonitos,
Tão alegres, joviais,
Tão diferentes de nós, seres aflitos.
Deixemo-las aos gritos, felizes!
Que ternura, estes petizes!

Deixem-me falar ou sufoco,
Cansado do palavreado oco,
Supérfluo, mundano, fictício.
Cansa-me os ouvidos este bulício
Citadino ou campesino.
Mal de mim, que suplício
Esta torre de babel,
Vozes loucas em tropel.
Quero o silêncio e não o troco
Pelo ruído selvagem, febril, louco!

Cale-se o mundo, cale-se tudo!
Fechem-se as bocas num jeito mudo.
Que não haja som grave, agudo,
Se alguém chamar, eu não acudo.
Sou tomado deste não-ser,
O silêncio – Oh que prazer!
Só escutar o som da natureza:
Predador atrás da presa,
Um viver sem ser com pressa,
Não ir a lado nenhum como pedra,
Voar livre, alma ilesa,
Ser árvore que medra,
Sempre no mesmo lugar, ora essa!
Ser flor e florescer
Sob o Sol – chama acesa –,
Perder sem cuidar que é perda,
Deixar ir, sabendo que regressa
Ao lugar que o viu nascer.

Cale-se o mundo barulhento,
Quezilento.
Mais vale este existir solitário,
Este viver no armário
Sem desejar, ser sedento,
Bem antes pelo contrário.
Aceitar seu fadário
Sem dor e sem revolta,
Deixar passar o tempo lento
Nesta pedra em que me sento,
Ser em tudo perdulário,
Em nada ser avarento,
O que se perde ou dá no vento,
Se é nosso, para nós volta.
Quaisquer esforços, mesmo que vários,
Terão como certo corolário
Tudo voltar a seu modo ordinário.
Deus, lá no alto, pachorrento,
Para nós guarda o portento
Ou um existir virulento.
Não há gesto arbitrário,

Por isso, não ouso, não tento
Tudo aceito como usuário
De um existir que, de tão bento,
Vem de antes do berçário.
Do vital documento,
Que dita teu viver diário,
Evento por evento,
Não és senão o elemento signatário
E deus seu grande mandatário.

LUZ E SOMBRA | 2012, Corpos Editora.

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sexta-feira, agosto 30, 2013 - 10:30

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RogerioMedeiros

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