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DOR
Dor
As dores só sente quem as tem,
Elas não se ouvem nem se vêem,
Não se mostram, estão escondidas,
E são sempre inimigas,
De quem as possui sem as pedir,
Entram depressa e nunca saem a fugir.
As dores do corpo doem tanto,
Mas as dores da alma causam pranto,
E por vezes são muito mais dolorosas,
Causadas pelo símbolo das rosas,
Ou de uma traição que não se espera,
São sempre reais e não uma quimera.
Dor só sente quem tem vida,
E só desaparece quando é perdida,
Acabou tudo, a alegria e o sofrimento,
E até o próprio pensamento,
Já não há lágrimas e nada acontece,
Porque já nada existe, tudo desaparece.
Por isso, eu quero sentir a minha dor,
Seja ela física ou de amor,
Quando se sente algo no corpo ou na mente,
Eu não fico triste, fico contente,
Posso chorar e rir ao mesmo tempo,
Porque estou vivo, sinto o vento.
Quando nada acontece vem a tristeza,
Esta ninguém chama, ninguém a deseja,
Mas ela anda, existe e aparece no olhar,
E nunca nos pede licença para entrar,
A alegria, essa sim, queremos que aconteça,
E da nossa alma nunca se despeça.
A dor só se ouve se alguém der um ai,
E uma lágrima espontânea vem e vai,
O seu destino é cair no chão,
E, se antes de ela cair passarmos a mão,
Entra na nossa pela e nada se perde,
E ela torna a aparecer porque se ergue.
A dor vai, a dor vem,
Ela não tem voz, só incomoda quem a tem,
E todos passam e ninguém sabe de nada,
É tão subtil, ora se acende ora se apaga,
Eu quero senti-la e matá-la se eu puder,
Eu só posso senti-la e apagá-la se eu viver.
Tavira, 19 de Setembro de 2011-Estêvão
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