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DUAS CAVALGADURAS
Duas cavalgaduras
Uma cavalgadura que carrega outra cavalgadura,
A que está por baixo tem uma situação muito dura,
Carrega uma que apenas tem duas patas, é idiota,
Quando se sente acossado e também trota.
A primeira sente - se dono da debaixo, usando chicote,
A segunda, apenas responde mudando a marcha para trote,
A de baixo urra para a de cima dizendo que lhe dói,
Mas a primeira não responde e marra como um boi.
Uma cavalgadura que carrega outra cavalgadura,
A de cima urra para outra que não fala mas também urra,
A primeira sabe o que quer e a segunda apenas obedece,
Distinguir uma da outra é fácil, no andar que carece,
Uma usa as quatro patas olhando sempre para o chão,
E a outra usa as duas sempre de chicote na mão,
Para mandar seguir em frente a cavalgadura inocente,
Que não se sabe defender das porradas que só ela sente.
A cavalgadura de cima diz para outra sempre ordenando,
Arre, arre cavalgadura, sou eu que estou mandando,
Paga – lhe o transporte com ração e com cama feita no chão,
E a de cima dorme sempre no seu quarto com colchão,
E a de baixo assim vai vivendo a vida que tem no tempo,
Vivendo a dureza da vida à chuva, ao Sol e ao vento,
Enquanto a cavalgadura que é dona vive noutras condições,
Com o dinheiro que a outra ganha e tratada aos empurrões.
Tavira, 25 de Agosto de 2010 - Estêvão
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