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Elegia À Sirenia Limia

Agarrado num negro madeiro
Maldigo a minha fatal sorte
Que me levou o batel inteiro,
Negando-me a mim a final morte.
Agarrado assim, em delírio,
Lembro-me da suave canção
Que me trouxe aqui, a este rio,
Seguindo aquele deus pagão,
Aquele que acerta bem no peito
Com flechas vis, de ilusão cheias,
Que nos levam a sair do leito
Familiar e seguir p’ras praias
Longínquas, onde uma sereia
Canta, enfeitiça o coração,
Faz lançar o batel contra a areia,
Afogando a tripulação.
Lembro-me de quando descansava,
Escutando os sinos de Tregosa,
Encostado a um muro eu ‘stava,
A admirar aquela flor mimosa,
A rosa vermelha, cor de fogo,
Que estava num jardim ali perto,
Que com o vento fazia o seu jogo,
O seu jogo de amor prometido.
Então ouvi o negro cântico
Que me falava de amor fingido
Que eu cria real. Era cínico
O canto. Era cínico o canto!
Mas eu não o percebia. Para mim
Era apenas musica de encanto
Que me guiaria para o jardim
Eterno. Mas descobri que eterno
Somente a morte. Nada mais o é.
Neguei então o jardim terreno,
Reneguei tudo, até minha fé.
Larguei família e amigos.
Vi meu nome lançado à lama!
Fiz-me um pirata, um saqueador.
Matei e o sangue das vitimas
Bebi! Hoje, flagelado pela dor,
Num papel escrevo estas rimas,
Confessando o crime terrível,
Que o meu vil amor fez cometer.
Sim tu, Sirena amada, horrível,
Fingiste o amor, fingiste o prazer.
Foste a mão e eu a ‘spada
Que juntos desceram sobre a terra
Matando todos, até crianças,
Sacrificaram o mundo à guerra;
Que apagaram todas as mudanças
Que nos tentam combater em vão!

Desisto Sirena! Eu desisto!
Jamais serie a ‘spada da mão
Criminosa. Serei cruz de Cristo,
Serei ‘sperança, jamais a morte,
Lutarei até ao fim contra ti
E, se me ajudar a sacra sorte,
Encontrarei o amor que perdi,
Salvar-te-ei da vileza da vida,
Mostrar-te-ei a vida do ‘spirito
E tu a seguirás, protegida
Pela mão do divino perito.



...


Falhei! Afogo-me nesta ria.
Matei todos os meus companheiros.
Não te salvei, Sirena Limia.
‘Gora nos momentos derradeiros,
‘Gora que sinto a agua a levar-me,
Tento dar um último suspiro.
Sinto-me etéreo, a elevar-me.
Sinto as mãos de um qualquer Zéfiro
A colocar-me ali à superfície;
Vejo aproximar-se um outro batel,
Julgar-me ser uma piscatória ‘specie,
Tirando-me da agua, dando-me mel.
Dizem que tive sorte, ‘tou vivo.
Mal conhecem eles o flagelo
Que é viver sendo assim, cativo,
Dum qualquer coração de gelo!

Agarrado ainda ao madeiro,
Maldigo a minha fatal sorte
Que me levou o batel inteiro,
Negando-me a mim a final morte.

Barroselas 13.10.94

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sábado, março 26, 2011 - 00:42

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gaudella

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