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FOME
Fome
Alimentas-te de nada e cresces não comendo,
Quanto menos comes mais vais fortalecendo,
O teu ser de coisa nenhuma, vives sem ninguém te ver,
Só ficas satisfeita quando fazes morrer.
Vives da tristeza matando a alegria de boca fechada,
Não tens dentes e de nada comeres ficas inchada,
Mordes em silêncio e bebes lágrimas como água,
Fazes da vida a morte e nunca sentes mágoa.
És monstruosa, maldita e atinges os mais fracos,
Com a tua avidez do nada os fazes em cacos,
Deixas os atingidos por ti de olhos abertos,
Até que te deixam de ver e pela terra são cobertos.
Quanto menos comes mais força tu aplicas,
Matas como as cobras com as tuas garras malditas,
Só o vento e a chuva te podem fazer frente,
Fazendo crescer na terra a força de alguma semente.
Comes de boca fechada, fechando a boca da vida
Só ficas satisfeita quando a sentes perdida,
És inimiga dos que nada têm e foges da fartura,
Deixando em tantas vidas os teus sinais da amargura.
Não consomes e vives consumindo tantos inocentes,
Vais mirrando as suas vidas com a força de serpentes,
Vai-te embora maldita deixa a vida crescer,
Deixa a Natureza criar para dar de comer.
Eu também te conheço de há muito tempo passado,
Ameaçaste-me morte, passando um mau bocado,
Eu fui resistindo, consegui sair dos teus abraços,
Enchendo a minha boca de pão duro aos pedaços.
Eu sei como te chamas, o teu nome é muito pequeno,
Escreve-se com quatro letras, nada mais, nada menos,
O teu nome é fome és medonha e indesejada,
Deixa este mundo para sempre deixa a vida descansada.
Tavira, 26 de Julho de 2011-Estêvão
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