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Guérnica errante

Guérnica errante

I

Passos, doentes passos ao longe, rua
A espreitar a necessidade do inconsciente
Do último sopro noturno incoerente
Da última gosma de lama no fundo do vago poço.

Passos, pardos passos que passam;
Passam...
Na calçada das casas, no meio da rua
Ao som de vagos sopros e vozes
Vozes vagas como os passos que passam.

Medo!
Seria medo ou poesia esta necessidade
Que necessita de um grito histérico, de um nome
Um nome inexistente em linhas tortas
Em sinuosas linhas macabras de medo.
Não que haja preconceito com as linhas tortas,
Elas existem e isso é apenas uma necessidade.

II

Que face é esta que não vejo
Que vozes são estas que não compreendo
Assim como não compreendi quaisquer línguas
Sobretudo a dos silenciadores
Da política, do Estado e das massas.

Faltou moral nos homens; ela fugira a galope
Faltou filosofia; ela era incompleta
E faltaram outras coisas mais.
Faltaram abraços
Faltaram sorrisos
Faltaram faltas
Mas o silêncio não faltou.

Seria submissão a causa
Ou a causa submissa a existência
Farsa! Falta farsa
Sim! Não faltaram farsas existenciais.

III
Passos pardo passam vagamente
Vagamente passam passos

IV

Cadê a tua profunda e bela imagem?
Cadê o teu corpo? Cadê?
Teu toque suspenso, teu nome
Tua parte que verseja nesta aquarela.
Cadê? Teu método?
Teu discurso, cadê?

Cidade de pedra, cidade de homens
De pedra, pedregulho, de peça
Do arcabouço de um navio no cais
Da ausência do último beijo
Suspenso nos mares.

Tua mocidade casta, santidade
Teu sonho noturno, tua morte
Silencia este meu silêncio.

E há grandes lonjuras entre nós, entre todos
Que tocam pandeiro em plena sexta,
Em plena anunciação da morte de Pã.
Silvestre, silvos severos sobre
Roncos que ronronam nas ruas
Pasto, parto, gasto, terra.

Mas o teu toque não toca tudo
Ilude-me, rebaixa, me inibe
A perscrutar a tua essência que flui vagamente
Como um barco que navega em um mar bravio.

V

Seria uma deusa aquela que passa?
Seria um anjo torto, um querubim!
Ou passos que passam e passam
Passivamente como o medo nas ruas.
E o medo nos relacionamentos passa
A passarem lento como os relógios
Que rolam minutos e segundos
Sobre um precipício.

Tortos, relógios tortos, tortos, tortos.
Torturam a memória última
Do beijo, do toque e do tom avulso
De um violino que vilão e encobre
O medo da vida na arte.

VI

Mas passos passam passivamente
Como olhares passivos
Amores passivos
Fumantes passivos
E paz passiva que se passa na ausência de guerra, Guérnica.

VII

Mas o teu medo eu não vejo e nem me ilude
Esta canção fúnebre que vem de longe
Teu toque não toca, maltrata
A última resma de folhas e vibra vibrante
Com a tua incompreensível forma.
Guérnica que guerreia contra a guerra
Guérnica errante.

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quarta-feira, abril 28, 2010 - 12:58

Poesia :

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ntistacien

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Re: Guérnica errante

Tua mocidade casta, santidade
Teu sonho noturno, tua morte
Silencia este meu silêncio.

Soberbo!!!

:-)

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