Matutar

Já havia dias que Jacinto não lhe tocava,
Nem mesmo queria dormir com ela, na mesma cama,
Parecia que Maria, já ali não habitava,
Só lhe servia para tratar a avó e dela ser sua ama.

Ela triste, suspirava por todo o lado,
Até já pensava que o defeito era dela,
Seria porque tinha engordado,
Ou seria até mesmo, porque já não gostava dela.

No mesmo assunto, durante dias matutou,
Queria ser a sua mulher, possuída como outrora, amada,
Naquele raio de coisas, durante dias, cismou,
Até dava a impressão que dela, Jacinto já não queria nada.

Se calhar, era porque ela não gostava de acender a luz,
Ou até mesmo, porque ela não gostava do seu hálito, a alcaçuz.
Ou se calhar, era porque ela não despia a roupa,
Ou até mesmo, por causa de usar, na cama, touca.

Sabia lá ela, o motivo da sua falta de interesse e folgor,
Podia ser culpa dela, ou não,
Até podia ser um problema de calor,
Até nem podiam ser coisas do coração.

O que era verdade, era a falta de tudo, um vazio
Coisa que no passado, nunca tinha existido,
Antes mesmo de casarem, andava atrás dela, feito cão vadio,
Não era nada paciente, quieto, e muito menos contido.

Algo se passava, e lhe estava a escapar,
Até podia a avó lhe contar histórias antigas de coisas da sedução,
De como uma mulher, a um homem interessar,
Mas o seu instinto, dizia-lhe para ter cuidado, para pensar com a cabeça e não com o coração.