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Ment(e)iras...
A minha alma faleceu ontem de madrugada,
declarei-lhe o óbito,
na ausência de sinais vitais...
Em lágrimas arranquei-a de mim, pela raiz,
dissequei-a,
separando cirurgicamente
cada fragmento,
cada sentimento,
cada principio activo dos fármacos dos meus sonhos...
Fiz uma biopsia,
procurei tumores e temores
procurei as causas do estado vegetativo
do sofrimento...
Não tinha nenhuma má formação,
não tinha problemas de cromossomas...
Na soma de tanta investigação,
de tanto corte,
profanando-lhe a morte,
para descobrir d q tinha padecido,
percebi q o mal era externo,
a doença nunca tinha morado em mim...
Foi vitima de maus tratos...
Viveu um inferno,
deu tudo de si,
mas foi espancada diariamente,
por um amor bêbado,
q lhe batia porque gostava dela...
Foi violada por mentiras
de mentes iradas e despedaçadas,
todos os dias...
Morderam-lhe os seios dos sonhos
até lhe arrancarem os mamilos,
puxaram-lhe os braços até rasgar
os tecidos...
Morreu entre gemidos e lamentos
ante os olhos de todos...
Meteram-lhe um freio na boca para
a obrigar a morrer devagar...
Meteram-lhe molhos de flores murchas
por cima do corpo,
para tapar-lhe as nódoas negras
e as amputações...
Sofreu horrores, respirou tormentos
e ainda assim viveu tanto tempo
ligada à maquina das ilusões...
Ninguém lhe segurou a mão,
ninguém rezou por ela,
ninguém lhe pediu perdão...
A minha alma faleceu ontem de madrugada,
declarei-lhe o óbito,
na ausência de sinais vitais...
Foi espancada por um amor bêbado,
q lhe batia porque gostava dela...
Inês Dunas
Libris Scripta Est
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Poesia :
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Comentários
Re: Ment(e)iras...
Um poema em que se sente cada fragmento com emoção!!!
Um poema intenso!!!
:-)
Re: Ment(e)iras...
Libriss :-D
Mente brilhante!
Excelente o texto,
muito bem elaborado ....
Gosto de te ler, e reler!!!
Beijinho-luz para ti..
mm
Re: Ment(e)iras...
Inês,
O teu poema é lindo, mas acredita que enquanto o lia arrepiei-me aos limites desse sofrimento enquanto o elevaste num amor ilusório:
"Meteram-lhe um freio na boca para
a obrigar a morrer devagar...
Meteram-lhe molhos de flores murchas
por cima do corpo,
para tapar-lhe as nódoas negras
e as amputações..."
Beijinho
Carla
Re: Ment(e)iras...
Libri,
Poema profundo, lava a alma embora morreu de tanto sofrimento mais ainda grita por renovo.
Beijos no coração.
Re: Ment(e)iras...
Inês, quase sem palavras para comentar o poema que é todo ele triste, mas as palavras que tenho são para dizer que acho a tua escrita genial. Parabéns.
Brilhante
Abraço
Nuno
Re: Ment(e)iras...
Que triste Inês, volta para nós...
Bem, este poema é uma junção de sentimentos, de emoções à flor da pele!
Fez-me pensar e pensar...
Uma realidade cada vez mais presente, infelizmente!
Gostei muito minha linda...
Beijinho, como gosto de si!
Re: Ment(e)iras...
De saída e lendo-te através uma alma bem viva e linda, me despeço até para a semana.
beijos e Páscoa feliz Linda Inês
Dolores Marques (Ônix)
Re: Ment(e)iras...
Paz à tua alma!
Que o ultimo cortejo, o fúnebre se realize entre cardos e rosas, que os acrobatas façam a magia de posses impossiveis, que a banda toque os ultimos acordes.
E depois....
E depois que renasças, com essa garra, essa coragem, essa alegria contagiante e nos transportes através da escrita a nós mortais, para um qualquer lugar distante...
Onde o Amor faça sonhar e a saudade seja um divagar.
Gostei bastante!
Beijos em ti