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No fim da vida... o abandono
O caminhar lento e cuidadoso
As mãos trêmulas a segurar a bengala
Revela o cansaço da vida
E a proximidade do fim.
É comovente ver os dois passarem horas sentados
Não se pode saber se conversam ou se só pensam sobre a vida.
Observo-os todos os dias do alto de meu quarto
E eles estão sempre lá, um ao lado do outro.
As paredes dos prédios não os deixam ver o horizonte
Às vezes, algumas nuvens,
É a única coisa que seus olhos cansados podem contemplar.
A vida passa muito lentamente para eles
Ali abandonados depois de toda uma vida.
Quem sabe onde anda seus filhos?
Envoltos nos afazeres do dia a dia
Na busca incessante pelo sucesso
Não foi possível dar aos velhinhos o repouso de um lar.
Vez ou outra ali chega alguém
Fala algumas palavras e vai embora rapidamente
E os dois voltam a sua rotina de sempre
Olhar as paredes de concreto que os prendem naquele apartamento.
A vida passa muito lentamente para eles
E o coração sente a angústia de ambos.
Quem irá primeiro?
O que acontecerá com o que ficar por último?
Um ao outro é o que afasta a solidão
E os ajuda a continuar.
Quantos anos estiveram juntos
E quantas situações superaram tendo um ao outro na caminhada.
O fim da vida
O apagar das luzes no abandono da vida moderna.
Já não se pode ouvir o cantar dos pássaros
E nem alimentar as aves de manhã
Nem correr pelos campos em flores
Como faziam na juventude.
A selva de pedra os condenaram.
A mão do velhinho repousa sobre a mão de sua amada
Parecem notar o meu olhar
E em silêncio eles permanecem a pensar.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
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