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NUNCA

          Ouço como nunca
                      ouvi
             a minha culpa.

Masco o silêncio como nunca
                      me
                 degustei.

         Olho como nunca
                   me vi
      por de trás dos olhos.

        Faço-me desfeito.

  Procuro-me como nunca
                    me
                  ilustrei.

  Encontro-me contra mim.

    Vendo-me como nunca
                     me
                 comprei.

      Entendo como nunca
                     me
                 percebi.

                 Assumo
                       a
                  minha
        responsabilidade.

Uso-me hábil como nunca
                  me
    habilitei habitar-me.

  Ser vadio como nunca
                   fui
              boémio.

Estar contente como nunca
                    fui
                 alegre.

         Caminhar ruas
            que nunca
                 pisei.

          Dar as voltas
      que as horas dão
          num milénio.

           Só para me
                 ouvir…

     E me agir sempre
         como nunca.

 

 

 

Submited by

quarta-feira, março 14, 2012 - 18:11

Poesia :

Your rating: None (3 votes)

Henrique

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Comentários

imagem de Odete Ferreira

Extraordinário

Extraordinário jogo com os verbos, ora em aliteração, ora em antítete...

Depois, aquilo que já sabes: o uso desconcertante do léxico em sentidos e lugares frásicos.

A tua poesia é arte pela arte...

Bjinho, amigo Henrique :)

(Já sabes que não tenho tempo para comentar os poemas...)

imagem de apsferreira

Espetacular, Henrique, esta

Espetacular, Henrique, esta tua

introspeção em forma

de poema,

:-)

imagem de Jorge Humberto

Decifraste pela poesia, em completa meditação,

Decifraste pela poesia, em completa meditação, ousando despir,
o fato humano, que te veste. Perfeito... sempre um prazer inovador ler-te.
 

Abraço bem forte, deste teu amigo!
Jorge Humberto

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