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O mundo que conheço...
O mundo que conheço ainda é o mesmo, mas… algo lá fora mudou… sinto-o no ar que entra pela janela, uma brisa mais tranquila, mais quente, menos ansiosa. Sinto-o nos pássaros que, sem vergonha de nós, cantam em voz alta nas poucas árvores que ainda deixamos existir por entre os prédios, como se gritassem a felicidade de poder voar livres de nós, sem medos… Sinto-o no sol que, por não saber que nos escondemos de um inimigo invisível, brilha tímido por detrás das nuvens e pensa que lhe negamos os sorrisos das crianças a brincar na rua, os corpos que se estendem na areia e todos os passeios de mãos dadas ao fim do dia para o ver adormecer para lá do horizonte. Sinto-o na tranquilidade com que acordo todas as manhãs, a preguiça saudável, sem correrias, sem horas certas, sem rotinas repetidas, sem pressas. Sinto-o na vontade repentina de escrever, de valorizar tudo o que ainda posso agarrar e que sei que é importante…
Sinto-o porque finalmente parei para sentir. O tempo que pensamos nunca ter, finalmente bateu-me à porta e olhou-me de frente, exigindo ação. Sinto o mundo a renascer a cada minuto, alheio ao sofrimento do que muitos estão a passar, talvez porque ele sabe o que é sofrer e por conhecer o autor dessa constante neglicência, decidiu não se importar… Por uma vez apenas, quis ser egoísta e, tendo a oportunidade única, tenta recuperar da doença prolongada que lhe tem sido cultivada… E nós, que com todo o drama apenas nos lamuriamos absortos numa existência isolada há mais tempo do que recordamos?! Sozinhos temos estado sempre! Agora mais isolados, mas, o egoísmo que trouxe a solidão desapareceu? Não o sinto nos ossos! Somos menos agora com todos os comodismos do que fomos antes de termos tudo! Sinto-o e sei que não serei a única. Agora temos tempo para ouvir o vento a soprar, os pássaros a cantar, o sol a brilhar, o mundo a girar…. Temos tempo para sermos melhores! Se não o formos, de que vale continuarmos a fingir uma felicidade repleta de rotinas idênticas, de vazios que preenchemos com tudo de nada, de escolhas fúteis de encher as vistas e atenuar a solidão! Sejamos mais do que temos vindo a construir, sejamos melhores do que o que está para vir!
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quarta-feira, abril 29, 2020 - 14:14
Poesia :
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