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O outro lado
Hoje passei para o outro lado
Abandonei a minha própria desilusão
Escondi o último sopro de meu coração
Vendi os restos desta torpe alma
a ti meu pobre Diabo...
Acredita que ficarás mal servido
Será essa a minha doce vingança
Tépido melancólico riso de criança
Que oiço sem fim em fugazes ecos
de um tempo já esquecido ...
Às perguntas, todas, responderei
Com um olhar apressado...
Para quê adiar o inevitável
Se tudo acabará onde começou
Numa suave leveza abominável
Que me consumiu a vida para deixar
este que até enfim nem sei se sou...
Ás respostas, todas, questionarei
Com um olhar consternado...
Não mais profanarei tais palavras
Com sintaxe vazia de difícil catalogar
Partirei do distante país das mentiras
Onde o caminho em mim se perdeu
na sua eterna forma circular...
Apaguei os fumos desta casa deserta
Vou viajar ao reencontro do passado
Pela tua mão, neste vazio, à descoberta
Deixo-me levar para lá deste mundo
Nunca ausente na minha presença,
quase sempre incerta...
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António de Almeida
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Poesia :
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