CONCURSOS:
Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia? Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.
Queira deus palmeiras verdes
…e ouvia os helicópteros quando ia ao frigorífico.
Abria a porta e lá dentro, ao lado dos iogurtes, morriam palmeiras a um canto verde, bêbadas de uvas soltas arrepiadas em glacê.
Depois já não queria escrever mais.
Arrumava o tempo a juntar ovos, ou lambia talheres enquanto areava os dourados num tricô monocórdico de vida que passa ás meias horas.
A janela quieta aguardava o assento de medíocres passados.
Por ali andava em sala, recortava figuras de silêncio como uma sombra chinesa.
Escondia coisas.
Raramente falava a campainha e desmazelava a reforma em procuras…
Os óculos, os dentes, o cabelo e aquelas novelas oclusas num preto e branco cinzento que faziam faltam à memória.
Gemiam ossos pelo corredor.
Aos domingos, todos os domingos, penteava os cabelos velhos de branco em frente ao espelho do guarda-vestidos.
Senhorio do caruncho que negava ao mogno primário o esplendor do castanho mortiço que falava línguas de um século.
Sentava-se á janela a ver as vistas, arranjada para a missa dos outros no adro contíguo.
Nunca o candelabro…
Porque tinha escondido a luz do amor numa pneumonia sepulcral que tinha o marido na morte.
Num embacio da vidraça riscava o dedo em inverno, último ou lá próximo.
Regava as flores de plástico e comia restos de abandono na carpete.
Cama de tombos e saudades quando o choro lhe tinha alguém descendente no amparo.
Amolgava deste modo as paredes soltando caliça mofada, cansada de ser bengalas.
…e ouvia os helicópteros quando ia ao frigorífico.
Ouvia o relógio de cuco e orações, ouvia poemas em papel de feltro e outras coisas que não acontecem assim.
Ouvia os dias, os carros lá longe por debaixo da janela, ouvia o gato que já não tinha, a primavera, o napalm, o marido a tossir e os filhos a voltarem da escola…
A janela quieta aguardava o assento de medíocres passados.
Embebedou-se de uvas arrepiadas em glacê.
Adormeceu sem ouvir nada a olhar o fim da rua.
Adormecem sem ouvir nada…queira deus palmeiras verdes.
Submited by
Poesia :
- Se logue para poder enviar comentários
- 513 leituras
Add comment
other contents of Lapis-Lazuli
Tópico | Título | Respostas | Views | Last Post | Língua | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Amor | "Do Amor e Outros Demónios" | 6 | 372 | 04/28/2010 - 03:39 | Português | |
Poesia/Intervenção | "Memória das minhas putas tristes" | 3 | 898 | 02/15/2010 - 12:23 | Português | |
Poesia/Pensamentos | "Recordações Da Casa Amarela" | 0 | 706 | 11/18/2010 - 16:09 | Português | |
Poesia/Aforismo | ...e a caravana passa | 1 | 674 | 08/23/2010 - 23:09 | Português | |
Poesia/Amor | ...e de amor ás vezes | 1 | 630 | 02/02/2010 - 04:09 | Português | |
Fotos/ - | 2672 | 0 | 5.455 | 11/24/2010 - 00:51 | Português | |
Fotos/ - | 3516 | 0 | 4.272 | 11/24/2010 - 00:55 | Português | |
Fotos/ - | 3517 | 1 | 3.660 | 03/13/2018 - 21:32 | Português | |
Fotos/ - | 3518 | 0 | 3.978 | 11/24/2010 - 00:55 | Português | |
Poesia/Aforismo | A cara dos outros | 2 | 446 | 05/09/2010 - 22:35 | Português | |
Poesia/Intervenção | A divina tourada | 0 | 1.204 | 11/18/2010 - 15:27 | Português | |
Poesia/Amor | À espera de nós | 3 | 503 | 04/06/2010 - 18:07 | Português | |
Poesia/Intervenção | A rir será | 5 | 593 | 03/30/2010 - 08:01 | Português | |
Prosas/Outros | A ultima vez no mundo | 0 | 2.474 | 11/18/2010 - 23:56 | Português | |
Poesia/Aforismo | A vida são dois dias | 1 | 1.100 | 09/16/2010 - 21:32 | Português | |
Poesia/Amor | Acho que a paixão foi dormir | 4 | 670 | 05/13/2010 - 20:47 | Português | |
Poesia/Aforismo | Adeus | 6 | 654 | 03/04/2010 - 14:01 | Português | |
Poesia/Dedicado | Adeus Bonequinha...( escrito póstumo) | 6 | 682 | 02/07/2010 - 18:05 | Português | |
Poesia/Aforismo | Afinidades | 3 | 628 | 02/23/2010 - 21:43 | Português | |
Poesia/Pensamentos | Alegoria dos ausentes | 1 | 582 | 05/09/2010 - 19:02 | Português | |
Poesia/Dedicado | Alfama | 3 | 921 | 01/14/2010 - 01:52 | Português | |
Poesia/Pensamentos | Always the sun | 6 | 657 | 04/12/2010 - 17:20 | Português | |
Poesia/Aforismo | Amanheceres | 3 | 953 | 01/21/2010 - 02:52 | Português | |
Poesia/Amor | Amo-te as coisas pequenas | 6 | 448 | 03/26/2010 - 09:51 | Português | |
Poesia/Intervenção | Amor assassino | 3 | 464 | 02/12/2010 - 01:07 | Português |
Comentários
Re: Queira deus palmeiras verdes
E pariu uma lágrima pelos olhos, que até hoje vive em sua descendência, quando a gratidão conferiu-lhe rodas aos pés e sentiu o vento frio no rosto de sua última primavera. Depois disso virou flor e escutou um inflamado discurso barítono ao lado do seu único amor, que já era ossos.
Chorei ao ler...
beijos enormes.
Re: Queira deus palmeiras verdes
Entristeceu-me. Assim é o poeta, a mexer com as emoções! Abraços