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A SAUDADE DÓI
A saudade dói
A saudade que dói mais fundo é irremediavelmente,
A própria saudade que temos da gente,
De princípio longínquo que já tivemos,
Do que já fomos e perdemos e agora já não temos.
O passado não reconhece o seu lugar está sempre presente,
Nas nossas recordações tardias nunca está ausente,
Todos os dias se manifesta e nós não nos apercebemos,
Pois ele está em todas as pequenas coisas que vivemos.
Quando nos lembramos dele mais frequentemente,
É quando queremos fazer e não podemos, é deprimente,
Lembramo-nos até onde podíamos ir e agora já não vamos,
E temos a consciência que o nosso futuro encurtamos.
As saudades começam a nascer e doem suavemente,
À medida que a nossa vida vai andando para a frente,
Para cortar a meta que o tempo nos traçou,
E quando esta certeza nos acontece, tudo acabou.
Das nossas próprias saudades só nós é que sabemos do porquê,
É como a dor que nos ataca, só nós sentimos e ninguém vê,
É silenciosa e vai corroendo lentamente o nosso coração,
E às vezes até choramos porque não lhe podemos dizer não.
A idade da razão eu não sei quantos anos ela tem,
E também não sei quando ela nasce e donde vem,
Só sei que o passado tem razão mas já o perdi,
Tenho saudades do que devia ter feito e não consegui.
É por esta razão que a vida pode deixar saudade,
O que deixamos para trás já não vem, chegou a idade,
Talvez seja a única razão que a razão conhece,
Quando só nos resta a saudade e o tempo ido já não acontece.
Tavira, 23 de Março de 2011 - Estêvão
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