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Strange VII - Naufrágios da alma e o fundo do mar

Os seus cabelos pingavam algas do fundo do mar.
Aquele fora o último mergulho nas ondas ferozes
antes de partir ao meio as cicatrizes que nunca tivera,
salpicá-las com a argila que ficara nos seus lábios
e separar a sua vida, da cumplicidade das areias.
 

Ela chorava a dor dos anzóis de prata
trespassados nas barbatanas limosas dos seus olhos,
magníficas esmeraldas brutalmente vandalizadas
pela ganância de actores disfarçados de bom senso,
procurando apenas ludibriar pobres inocentes
que nem sabiam o mundo que havia à sua volta.
 

Era perceptível à distância, a algumas milhas da costa,
um casco dourado sobre uma vegetação rasteira e venenosa
a sua alma gritando. Gritando ao mundo que não a escutava,
a vítima em que se tornara.
 

Soltei as amarras do meu medo das águas salgadas.
«wind» compreendia sempre o meu coração e avançou
cortando as águas como se cortasse os inimigos,
como se desvastasse todo um exército negro e malévolo.
 

O mar cobrira-se de argila cinzenta e espessa.
«Wind» reclamou ao vento mais velocidade mas ele serenara.
Já a minha esperança saltava a bombordo
quando as algas vivas saltaram das águas subindo aos céus.
Veio uma brisa, surgiu uma tempestade de barbatanas.
Esmeraldas pingaram sobre as velas e o mastro.
 

Estávamos perto. Somente a neblina nos separava.
tremias contra o metal gelado do «Anjo negro dos mares».
- Seria noite ou seria dia?
Uma voz rouca e medonha difundia-se no silêncio.
Uma nuvem negra rodeava-nos de escuridão.
Avançámos. Eu com as algas na mão.
Golpes de anzóis fustigavam-nos
como outrora o haviam feito a tua partida e ausência.
Ouvia-se um riso de escárnio afastar-se.
Uma bomba relógio rodeava-te o peito prestes a explodir.
A morte chamava-nos, mas não havia tempo para fugir,
e a areia no convés afundava-nos.
Fechámos os olhos com as algas...
 

Acordámos.
 

Era ver a vida activa à nossa volta,
as barbatanas nas águas e as asas no ar.
Ainda te pingava um líquido dos cabelos
e só aí percebi que era da mesma matéria das lágrimas...
só aí soube que os nossos lábios tocados num beijo argiloso
haviam emocionado um anjo bondoso...

 

rainbowsky

2002

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sexta-feira, janeiro 7, 2011 - 16:29

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