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Utopias (Mário Benedetti)

Como posso acreditar / disse o fulano

que  o mundo ficou sem utopias

 

como posso acreditar

que a esperança é um esquecimento

ou que o prazer é uma tristeza

 

como posso acreditar / disse o fulano

que o universo é uma ruína

mesmo não sendo

ou que a morte é o silêncio

mesmo não sendo

 

como posso acreditar

que o horizonte é a fronteira

que o mar é ninguém

que a noite é nada

 

como posso acreditar / disse o fulano

que teu corpo / sicrana

não é algo mais do que apalpo

ou que teu amor

esse remoto amor que me destinas

não é a nudez dos teus olhos

a avareza das tuas mãos

 

como posso acreditar / sicrana austral

que és somente o que vejo

acaricio ou penetro

 

como posso acreditar / disse o fulano

que a utopia já não existe

se tu / sicrana doce

ousada / eterna

se tu / és minha utopia.

 

Mário Benedetti (1920-2009), poeta uruguaio, In: Antologia de Poemas de Amor.

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sábado, agosto 13, 2011 - 17:27

Poesia :

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