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Verão de Março

O vagabundo joga às palavras cruzadas
No jornal de ontem que encontrou no lixo
Deitado num cobertor roxo, florido,
Descalço numa montra de uma loja
Eu passo por ele
E olho para os seus pequenos olhos negros
Enquanto subo a Avenida dos Aliados
Com o meu casaco já velho e gasto
Usado sabe-se lá por quem
Com histórias em cada marca surrada pelo tempo
De décadas já vividas por aquele casaco castanho
Comprado numa loja de roupa em segunda mão
A fumar um cigarro com tabaco de enrolar
É mais barato e poupa-se uns trocos
Para beber umas cervejas
E sinto-me bem
Nesta tarde de verão em Março
Com o vento quente a soprar
Uma brisa carinhosa
Pelas artérias da cidade suja
Onde toda ela é jazz
Grupos de negros acompanhados com os seus sacos de plásticos
Falam e riem nas esquinas dos edifícios
Com as suas vestes cheias de exotismo africano
A burguesia espreguiça os seus lamentos
Nos poucos cafés abertos
E fala de arte, literatura, e música
Mas não entende os seus significados
Forma-se um riso de fachada
Vaidade ignorante
Sempre a olhar pelo canto do olho
A ver se os outros reparam
Na vida alternativa como eles dizem
Que levam
Vida onde parece que tudo está bem
Não me perguntem o que fazem para existir
Neste mundo atómico de frieza e crueldade
Que não vos sei responder
Mas tudo é tão belo
Quando a tarde chega ao fim
Veteranas prostitutas sentadas nos degraus da pensão
Outras com o pé na parede branca
A fumar cigarros
Esperando clientes
Mas o único que aparece é o tempo
Que elas já tão bem conhecem
E não as larga
Deixando marcas nos seus rostos
Nos vestidos
Já fora de moda
E nos corpos ressequidos
Sem esperança
O Porto morre
Nos braços de famílias que se passeiam
Aliás, agoniza-se durante a semana
De forma lenta e macabra
Até que assina a sua sentença de morte
Ao Domingo
É certo
Não podemos fazer nada
Está calor e as roupas secam nas varandas
Da Rua do Almada
Um gato aproveita os últimos raios de sol
E lambe-se deitado num caixote de lixo verde
Fantasmas assombram o busto de António Nobre na Cordoaria

Dizia ele
Mas na morte que lhe foi imposta
Celebrou a sua grandeza
Agora as ninfas e deusas que não teve
Todas as noites o beijam e acarinham
As estrelas brilham com mais força
Um lampião que se esqueceu de iluminar
Acende-se
O esplendor aparece
Eu acabo com o whiskey barato
Da minha garrafa de bolso
E deito-me no meu pequeno quarto
A pensar
De repente lembro-me de ti
E tudo se torna num sono de saudade
 

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segunda-feira, março 28, 2011 - 17:48
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