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Vida Incógnita

Muitos foram aqueles momentos
Passados muito antes de eu nascer,
Mas que se encontram nos pensamentos,
Guardados naqueles sentimentos
Esquecidos, perdidos no saber.

É apenas uma inútil vida
Esta minha que tenho vivido,
Onde cada passada é sentida,
Cada palavra é prometida
E o coração é perdido.

Como a este Fado posso escapar?
Será que poderei viver em paz
E no entanto este mundo mudar?
Será que alguém poderei amar?
Será que algum dia serei capaz?

Só tenho uma força verdadeira,
Só o poder da palavra eu tenho,
Que uso até à hora derradeira,
Alterando a força pioneira
Que destrói todo e qualquer engenho.

Por muita sôfregas horas passou,
Muito antes da minha presença,
O azul Olimpo o homem encontrou,
Os seus habitantes considerou
Serem regentes do homem que penso.

Conquistados foram p’los romanos,
Aprenderam a falar em latim,
Viveram com eles muitos anos,
Deste mundo foram soberanos,
Mas o seu império teve fim.

Eu não me encontrei nesse mundo,
Ainda não tinha nascido,
Ainda esperava o segundo,
Esperava o momento fecundo,
Pensado p’lo suave cúpido.

Nasceu e cresceu um novo messias,
O libertador dos oprimidos,
Na paz da alma viveu os seus dias,
Trouxe ao mundo palavras sábias,
Levou-nos a viver p’los sentidos.

“a guerra combate-se co’o Amor.”
Eram as suas palavras eternas,
Mas eram tempos cheios de terror,
Aqueles em que veio o Salvador,
Que morto foi por almas terrenas.

Não. Ainda não me encontrava
Vivo, andando com aquele homem,
Por belos sonhos não passava,
Belas palavras não escutava,
Vivia ainda na terra virgem.

Vieram depois infiéis povos,
Transportando nova religião,
Eternos conhecimentos novos,
Outras novas aves, novos ovos,
Desafiando o povo Cristão.

Estes combateram em cruzadas,
Destruíram mil eternas almas,
Cruzaram mil praças em paradas,
Mas as guerras foram acabadas,
Regressaram por vias de palmas.

Estava ainda como perdido
Na imensidão de lugar nenhum,
Esperando eu ser o escolhido,para este mundo tão vivido,
Onde vive e morre o homem comum.

Vieram depois novos momentos,
Novas praias, novos céus e estrelas,
Novos tempos tão turbulentos,
Veio o tempo dos descobrimentos,
Com seus galeões e caravelas.

Descobriram-se novas paragens
Escalaram-se terríveis serras,
Exploraram-se rios e margens;
Foram rendidas mil homenagens;
Fizeram-se horrorosas guerras.

Deram-se novos mundos ao mundo,
(como tão bem disse o poeta.)
Conheceu-se um planeta fecundo,
Já sem o horror eterno, imundo,
Que assola este nosso planeta.

Meu nome ainda não navega,
Naqueles mares, naqueles barcos,
O brilho do ouro não me cega,
Não oiço vozes a dizer: “Pega
Leva o ouro e constrói mil arcos.”

Um novo e belo século nasceu;
E, das cinzas do nosso passado,
Surgiu e em mil guerras apareceu.
E muito este mortal ser sofreu,
Só por um século revoltado.

Foram bombas a cair no chão;
Foram corpos estendidos na lama,
Moribundos querendo perdão,
Homens sem uma perna ou mão,
Deitados numa hospitalar cama.

Mas, para meu azar, talvez sorte,
Não me encontrava nesses prados,
Seguindo cegamente Mavorte,
Procurando em vão minha morte,
Procurando o final dos meus fados.

De novo o mundo estava em guerra,
Mais corpos o solo infestavam,
Sangue humano corria na serra,
Misturando-se co’a negra terra;
Mil humanos em vão lutavam.

Uma terrível bomba caiu,
Numa longínqua doce praia,
Brilhando como um mortal raio,
E logo uma treva sem fim cobriu,
Aquela terra, agora vazia.

Virada foi mais uma página
Do livro da nossa história,
Onde a Morte é a nossa sina,
Onde a palavra a tonos assina
O prefácio da vã glória.

Um sonho fez-se realidade,
Após muito a superfície nua
Ter olhado, (sim isto é verdade!)
Alcançou a imortalidade,
Ao por o primeiro pé na Lua.

E foi um pequeno passo pró homem,
Que lá em cima então foi dado,
Tão longe da bela terra mãe.
A Lua e o homem. Que bela imagem!
Que momento p’ra sempre lembrado!

Grande passo p’ra humanidade,
Lá, naquele belo paraíso,
Onde a beleza é de verdade
E o tempo é a eternidade,
Esperando p’lo final juízo.

Ainda não é este o meu sonho,
Ainda não é esta a minha vida.
Eu na Lua os pés não ponho,
Pois espero a vinda assim risonho,
P’ro mundo da alegria sentida.

Que é isto? Uma luz no meu caminho?
Que brilho! Que força! Que se passa?
No meu corpo corre humano vinho,
Será possível? Quero carinho,
Haverá por aí quem mo faça?

Que caras estranhas! Estou perdido!
Alguém me ajuda? Alguém me guia?
Será possível? Terei nascido?
Terá finalmente acontecido?
Terei nascido, como queria?

Sim. Esta só pode ser a vida.
Sinto pela primeira vez a dor,
É terrível, agora sentida.
Coitada da alma. Está perdida
Por este mundo tão sofredor.

Estou vivo, mas está tudo igual,
Os factos todos passam ao lado,
Sejam umas guerras em Portugal,
Seja o ultimo juízo final,
Tudo me escapa. É o meu Fado.

Estão irmãos contra irmãos.
(É outra vez o Abel e Caim.)
Povos que já não dão as mãos,
Governantes julgando-se sãos,
Levando o país ao ultimo fim.

Mas tem havido feitos glórios,
São poucos, mas têm existido,
Explorações de novos rios,
Novos escritos de grandes sábios,
Novos sonhos têm prometido.

Mas porém é grande a sentida dor,
Ainda maior a opressão,
Que alguns povos conseguem p’lo teror,
Pela morte, pela falta de amor,
Colocando povos na prisão.

Mas tudo, porém, passa ao meu lado.
Será sorte, será azar? Não sei!
Apenas sei que estou deslocado,
Que estou sempre como aprisionado,
Sempre solto como um regente rei.

São grandes as contradições,
Que regem sempre esta minha vida,
Onde só existem sensações
Contrárias como mil paixões,
Onde a alegria já está perdida.

Brinca o futuro com o passado,
E o passado com o presente,
Num jogo assim, sempre inspirado,
Onde é feito o nosso eterno Fado,
Onde é regulada a nossa mente.

Sonhos eternos, amor fecundo,
Que nos levam a uma dúvida:
Reservado sempre p’ra segundo,
De que serve ser jovem no mundo,
Estando preso a esta vida?

Semrpe longe dos grandes momentos,
Afastado de tudo que é real,
Preso a humanos sentimentos,
E morto por fatais fingimentos,
Lentamente como o bem e o mal.

Talvez tu respondas, meu amigo.
Pois eu já não tenho resposta,
Este mundo que eu tanto persigo,
Considerou-me seu inimigo,
É assim que a verdade está disposta…


07.08.1992
 

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sábado, abril 9, 2011 - 13:23

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gaudella

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