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«Pele...»

Ao cessar o barulho do motor, o silêncio chegou-lhe aos ouvidos como um som gritado a distância. Não sabe como ali chegou ou porque parou. Absorta, permanece imóvel observando a invasão húmida que satura o ar. O olhar suspenso segue o contador dos minutos e os pensamentos perdem-se por entre fios de cabelos que se alisam no movimento repetitivo dos dedos.
«Pele…»

O som generoso da chuva e o eco dos seus salpicos fazem-se sentir, arrancando-a do estado letárgico a que se entregou. Água e pele, pedras a um charco provocando ondas, gerando um impulso que lhe percorre o corpo. Em resposta, os movimentos mecânicos param e os lábios distendem-se num sorriso que compreende tudo o que é necessário e o que deve ser feito. «Pele…» - A sua pele antes e mais do que qualquer outra.
Subitamente, como se estivessem livres de todo o torpor, os dedos deslizaram pelo pescoço, cercando sorrateiros o emaranhado de botões, livrando-a habilmente de toda a roupa.   Pudesse de igual modo despir-se de todos os seus receios, mas a verdade é que se sente hesitar e receia ser tomada pela indecisão. Então, de olhos postos no tecido protector, inspirou - conciliando os seus receios e os seus desejos – e antecipando-se à crescente hesitação, abriu a janela e atirou as roupas fora.

Assim permaneceu breves minutos na noite escura, inalando e exalando compassadamente, estabilizando o ritmo cardíaco. Oculta, sorria empática ao contemplar as sombras apressadas fustigadas pela chuva, corpos encolhidos, vergados por outras vontades. Também ela conhecia uma vontade vergada, rejeitada ou negada. Também ela reconhecia no seu próprio corpo as marcas curvadas da submissão. Assim, fora um dia e por demasiado tempo!

Vestiu a gabardine, que tinha passado despercebida no banco de trás, ligou o carro e concentrou-se na imagem mental que se afigurava como sendo o seu caminho e destino. O trajecto fê-lo voando, animada pela visão de memórias futuras. Imagens nítidas, marcadas apenas pela ausência da cor, contrastando com uma pele ornamentada em tons de rosa e de vermelho ruborizado.
«Pele…» - A sua já não lhe bastava.

Ao chegar à praia, encontrou na agitação marítima um eco do tumulto que sentia. Espelho dos seus receios e desejos, a espuma rendia-se corajosamente na areia branca, incentivando-a a prosseguir no seu caminho. A expectativa crescente abre comportas e uma mistura explosiva, aromática e erótica percorre-a como uma corrente eléctrica, fazendo-a caminhar com a agilidade de um felino. Um único pensamento, um enfoque claro na direcção a seguir… Ele já a esperava e ela fizera-o esperar como ninguém.
«Uma vida! » - Dizia-lhe.

A cada passo, um gesto [a certeza dos seus sentimentos, desfazia todos os nós]. Os seus olhos, habituados à escuridão, orientavam-na rumo à casa na praia, à porta aberta, à silhueta masculina. Ele estava à porta, no olhar uma ânsia que tomara lugar por demasiado tempo.
«Pele...» - Ele queria-a e a sua já não lhe bastava.

Tentou esboçar um som de boas-vindas, mas as ondas do mar, em rebentação costeira, apenas facilitavam a linguagem dos olhos. Abriu os braços, fechou-os num abraço...

Mais tarde, teriam de procurar as marcas da sua passagem, conectando à terra o sonho que ora viviam. Entretanto, cada toque aproximava-os mais da sua forma etérea e a pele, que tanto queriam, era já uma mescla de fragrâncias invadindo todo o ambiente.

Conto publicado no blog Broken Wings e na Rede Social PEAPAZ

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segunda-feira, setembro 22, 2014 - 17:52

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Ema Moura

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