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Êxtase

As luzes apagam-se, devagarinho sem pressa. Começamos a perder o controlo. Estamos completamente sozinhos, não há mais ninguém, todo o mundo desapareceu e o quarto respira e enche-nos, como se fosse um organismo vivo e humano, em vez de mero material construído há muitos anos. Sinto-me como uma pedra rolante, nas mãos de qualquer criança, um disco voador, um dado nesta roleta russa que é o amor. Brincámos neste jogo, houve alturas em que perdemos e o choro desfez-nos em pedaços mas por sentirmos tanto, fomos postos de volta na corrida onde todo o divertimento acontece e o trabalho fica à porta.
Quero-te mais do que qualquer outra coisa, tu sabes disso e deixas-me ficar assim, colada a ti como se apenas o teu corpo me pudesse acalmar. A minha cura é tocar-te apenas. Sinto-te e não te tenho, as pessoas são feitas para serem elas próprias e não atrelados de estados emocionais de outras mas de alguma maneira que não consigo explicar, és o meu complemento. O amor vai para além do sexo, do perigo, da morte. Possuo a essência dos teus sonhos e a capacidade de te fazer sorrir e sinto-me como se tivesse tudo. Observo absorta a tua pele iluminar-se, os teus cabelos de seda enquanto pestanejas para concentrar a visão e retens-te atento em mim, em cada enunciado, teorema e postulado que a minha expressão, ainda tão adolescente, indica.
Há algo de tão sensual na maneira como caminhas apressado pelas ruas, em passos tão enormes como as tuas pernas longas, como balbucias distraídamente em múrmurios quase inaudíveis e te dobras sobre ti próprio, como um bicho-de-conta, como se estivesses a fingir que és pequeno. Não posso desejar outra pessoa, és tu somente ou o vácuo onde vão parar todos os meus desejos vãos.
É uma loucura, eu sei, mas simplesmente não consigo parar nem distanciar-me, sinto o teu sabor na minha língua sem te beijar, só consigo pensar “Sim. Amo mesmo.” Amo-te. Serás tu o meu senhor, o meu marido, o pai dos meus filhos. Dos nossos filhos. O meu amante e único amor. Doce como só os teus beijos podem ser. Relaciono-me com os raios de sol, com as gotas no oceano, sou mar e firmamento ao mesmo tempo, tu és a minha Terra, o meu sangue e o meu Céu. Mesmo na escuridão absoluta consegues ter-me de uma maneira tão profunda que nem milhões de palavras ou imagens poderiam explicar. Estás dentro do meu coração, tal visceral como um coral dentro do seu recife. Isto deve ser um qualquer universo alternativo, dás-me tanto prazer como fé, acompanhada por dor que faz desesperar de frustração e suor de irrealização. Agora que o nosso amor apareceu para mim como um acontecimento inevitável, sei que nada pode ser melhor do que este vulcão às vezes activo, noutras adormecido, que me leva para longe do esquecimento e do abismo para me fazer chegar até à troposfera. Excitas-me com a tua inteligência brilhante, com os teus modos educados e pacientes que me fazem ficar tão orgulhosa, com a tua rebeldia bem comportada, em que me encaixo na perfeição, semelhante em tanta coisa que nem consigo numerar. Falamos uma linguagem própria, os nossos corpos entendem-se e as nossas almas comungam. O Amor liberta-me, focaliza-me, trespassa-me como uma lança para me tirar e voltar a devolver tudo. Não há mais fome ou tristeza, somos tudo o que existe, iluminados, resplandecentes no absoluto.

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quarta-feira, junho 10, 2009 - 18:26

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Paulagouveia

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Re: Êxtase

Lindo! Um texto onde toda a essência do amor transborda na linguagem dos corpos!

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