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Abandonada (Profecia de uma Vida Vencida)

Pergunto-me se ainda te lembras de mim, depois de todo o tempo que passou. A verdade é que passou tanto tempo que sinto que, se me encontrasses na rua, não me reconhecerias. Eu, contudo, estou igual, se não no exterior, naquilo que existe dentro de mim.
Ainda sou a mesma alma ferida e derrotada que acreditou nas tuas palavras sobre sonhos, amor e inocência, para descobrir mais tarde que estava errada. Sou ainda o espírito magoado pelo teu abandono, o anjo de inocência que acreditou que não tinhas segredos para mim, que me dirias quando chegasse a altura em que os nossos caminhos se deveriam separar. Ainda bate em mim o coração quebrado quando soube pelas vozes tenebrosas do mundo, que o nosso tempo há muito terminara e que tu esconderas esse segredo contigo. Sou e serei eternamente a alma que tu destruíste, a força que tu derrotaste, a esperança que tu apagaste, a vida vazia a que me condenaste, e é por este vazo imenso e eterno que nunca consegui voltar a confiar em criatura alguma, acreditar novamente em promessas de amizade, lutar pela felicidade e pelo amor em que deixei de acreditar.
Perdida no meu desespero, na inércia vazia do meu coração entorpecido pela dor, afastei-me do mundo, renunciei a toda a minha história, abandonei todos os meus sonhos e toa a esperança e reneguei a minha fé. Isolei-me no silêncio sombrio da minha própria dor, deixando para trás todos aqueles que alguma vez amei, em teu nome apenas. Em nome da tua memória...
Durante os longos anos em que as portas da minha vida se mantiveram fechadas a toda a esperança e a toda a luz, prometi a mim mesma, a cada novo despertar, que esse seria o último da minha vida. Prometi que, antes que o sono chegasse, tudo estaria terminado. Todos os dias o prometi e todos os dias o tentei, contudo, as memórias da vida passada venceram a minha coragem e não consegui acabar com esta aberração repugnante que sou eu, aversa a toda a criatura viva que se aproxime de mim.
Sei, contudo, que hoje será diferente. Hoje, já nada há que me fascine no meu passado, nenhuma memória de um momento feliz que me prenda a este mundo, nenhum sentimento de amor pelo mundo que eu não deseje apagar. Tudo aquilo por que anseio é o repouso eterno, a serenidade infinita de não saber nada, não sentir nada, não ser nada...
Quando eu terminar estas breves palavras, tudo estará terminado. O desejo tornou-se real, pois, desta vez, as forças não falharam: o apelo do supremo silêncio foi mais forte. E é a ti, causa directa de toda esta série de acontecimentos, que eu dirijo as minhas últimas palavras, apesar de saber que há anos que me esqueceste. Porquê? Porque, se ainda existir alguém que se lembre que eu existo, espero que esse alguém me possa compreender e perdoar...
Pergunto-me se mudaste, ao longo dos últimos anos, ou se, pelo contrário, és a mesma criatura de indiferença e ilusão por quem, em tempos, me perdi. Se ainda és o mesmo, sei perfeitamente que, quando estas palavras chegaram às tuas mãos, olharás para elas com a mesma indiferença com que alguém lê o obituário num jornal qualquer, isto se chegares sequer a reconhecer o meu nome, mas isso já não interessa. Já nada interessa...
E eis que o meu tempo acaba... Acaba finalmente uma eternidade vazia, ficando apenas o silêncio eterno. Sinto já as mãos trémulas, mas deixo-te ainda estas escassas palavras, apenas a ti, em nome de quem me perdi e me abandono à morte. Desejo-te tudo aquilo que tu mereces, medido até aos mais ínfimos limites. Quanto ao resto, que seja a justiça divina a decidir. Vive e lembra-te de mim, para que eu seja o fantasma que assombra as tuas noites, tal como tu foste a memória constante que atormentou cada um dos meus dias.

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quarta-feira, abril 16, 2008 - 13:04

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SRaven

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Comentários

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Re: Abandonada (Profecia de uma Vida Vencida)

Texto bem escrito, boa razão de ser!

:-)

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Re: Abandonada (Profecia de uma Vida Vencida)

cruelmente belo, tristemente calmo, alias como me acostumas te desde a primeira palavra dos teus poemas...
gostei bastante

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