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Civilização - Capítulo 1

1. A Montanha

Olhei o céu. Nuvens pálidas cobriam o sol quase por completo, à excepção de alguns raios de luz que, por instantes, conseguiam atravessar esse manto leitoso, lentamente derramado sobre o mundo, que chegava tão longe quanto os meus olhos podiam alcançar.

A uma não tão longínqua distância, erguendo-se da subtil monotonia do deserto, a Montanha fitava-me, com a sua pele nua de vegetação e o seu suave ventre arredondado, prometendo aos céus fiel submissão. Perfeição era a única palavra que me ocorria. Aquele dia, aquela paisagem, aquele sossego sublime eram para mim a definição absoluta de beleza. Não os humanos, vermes sujos, mortais e de alma corrompida. Não. Não os desejos e as frustrações, não os romances e os desgostos, não os sorrisos e as lágrimas. Não. Aquele momento, apenas, onde o coração se sentia puro, onde a mente era ela mesma e tudo o resto.

Continuei o meu caminho em direcção à Montanha, cativado pelo seu doce chamamento. Sabia que o tinha de fazer, sabia que tinha de chegar ao topo da Montanha, mas não possuía a mínima ideia do porquê, e muito menos de como tinha ali chegado. Não tinha a mais pequena memória de fazer qualquer tipo de viagem até aquele lugar. Lembrava-me de estar deitado na cama, numa noite trovejante, tentando limpar a mente dos problemas e esforçando-me por adormecer. Lembrava-me de uma luz… um estranho e silencioso raio de luz mergulhara o meu quarto num rosa intenso e petrificante. Os trovões cessaram, e somente o silêncio se ouviu. Tudo à minha volta pareceu desvanecer. Mas aquele rosa ainda ali estava…um rosa inebriante, que devorara tudo em meu redor, que feria o olhar e o coração, e me paralisou no mais doce coma. Surpresa. Pânico. Depois…


٭ ٭ ٭


Vi-me ali, naquela planície desolada, com a Montanha à distância, e senti que algo em mim me puxava na sua direcção. De algum modo, aquela donzela de rocha atraíra-me para ela, e eu sentia-me tomado, cego, pelo doce perfume que dela emanava. Eu pertencia-lhe, agora. E eu sentia que era o correcto, que fazia sentido. Nunca tinha estado naquele lugar, tão distante do mundo citadino que afogara a minha vida, afastada da verdadeira essência da vida e mergulhada num mar de dor e dissimulação.

Sem abrandar o ritmo, fui-me aproximando lentamente da Montanha. De súbito, fui atingido por uma nervosa ansiedade, talvez mesmo receio. Era quase certo que alguém ou algo me tinha “transportado” até aquele lugar, e eu perguntava a mim próprio quais seriam as suas intenções, assim como o que poderia vir a encontrar no topo daquela bela e enigmática montanha. Por momentos, pensei se não seria mais sensato voltar para trás, procurar alguma habitação ou cabine telefónica para saber onde me encontrava, e, de alguma forma, voltar para casa. No entanto, não o fiz. Se tivesse dado meia volta e regressado, nunca saberia o que me esperava, e punir-me-ia por isso até ao resto dos meus dias. Para além disso, sentia que tinha uma missão a cumprir, que, de alguma forma, os eventos que se dariam nas próximas horas, quaisquer que fossem eles, iriam alterar para sempre a vida de muitos seres humanos, incluindo a minha própria vida. Sim, era uma atitude arriscada. Mas não me importava. E, para minha própria surpresa, pensei que seria preferível morrer ali, rodeado de paz e beleza, que voltar ao dia-a-dia repugnantemente fútil da minha vida destruída. Porém, essa vida tomara agora um propósito, um propósito que eu desconhecia, mas que me fazia sentir feliz, útil. Limpo.

Levei muito tempo a compreender, mas agora sei: seria preferível ter dado meia volta e regressado a casa (embora saiba também que, por maior que fosse a minha vontade, nunca o teria conseguido fazer).


٭ ٭ ٭

Nesse dia, fui cúmplice do mais horrendo crime da História. Um crime que levaria, um dia, à destruição da raça humana, à morte da esperança. E, mais tarde, à minha própria morte.

Fim do Capítulo 1
 

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quarta-feira, julho 13, 2011 - 14:52
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arturdelara

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