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Com vontade de ti - parte 2

Regresso à realidade…

Passada uma semana desde aquela noite e já não sabia estar sem ti… como se fizesses parte do meu ser, como se precisasse de ti para sobreviver. Acordava pela manhã e ainda antes de abrir os olhos para o mundo já sentia aquela vontade de te sentir, de te respirar… de te ter em mim. Tudo que tinha vivido até ali me parecia agora tão distante e sem sentido, que quase parecia ter sido a realidade de outra pessoa qualquer menos a minha.
Ainda lembrava nitidamente aquele cheiro da tua pele pela manhã, um misto de paixão recente, com um toque leve do café com leite que tinhas acabado de fazer quando insanamente te roubei e estendi naquele balcão. E se aquele balcão falasse… que loucuras testemunhou naquele dia e nos muitos que lhe sucederam durante aquela semana… nunca mais o consegui olhar sem sorrir, sem me lembrar de ti vulnerável a olhar-me com prazer e loucura.

Uma semana inteira só para nós… tu de férias tinhas todo o tempo do mundo para mim e para a minha loucura de ti… eu… eu lá me encarreguei de arranjar uma virose qualquer e fazer daquela semana a nossa semana… a semana das nossas vidas… acontecesse o que acontecesse no futuro… agora no presente e depois daqueles dias nunca mais nada seria igual ao que era antes… fizemos justiça à famosa expressão “Carpe Diem” e aproveitamos cada momento ao máximo e agora… agora o nosso mundo estava diferente, nós estávamos diferentes. Sem contar com isso tínhamos mudado o rumo das nossas vidas irremediavelmente…

Mas agora que a vida nos forçou a voltar à realidade, acordei hoje pela primeira vez sem o calor do teu corpo junto ao meu e um vazio estranho apoderou-se de mim. Nunca ninguém tinha tido esse efeito em mim, aliás, normalmente as minhas relações não duravam mais que umas semanas, não gostava de me sentir dependente de ninguém fosse de que forma fosse… e agora, como um vício que nos agarra, senti-me ressacar perante a tua ausência. Olhei para o relógio ao lado da cama e vi que estava na hora de sair da cama. Levantei-me de ombros caídos, abri as persianas e nem a luz do sol radioso que se fazia sentir me fez sorrir… lentamente dirigi-me para a casa-de-banho, abri a água para tomar um duche e recordei o nosso primeiro banho… aquele em que nos fartamos de rir porque estiveste uns bons dez minutos à espera que a água arrefecesse antes de entrar… disseste-me que não eras camarão para cozer… eu ri e sorri… ali na banheira pude apreciar a visão de teu corpo de pé em frente ao espelho enquanto esperavas que a temperatura da água ficasse mais do teu agrado. Pude memoriza-lo ao pormenor… memorizar cada linha… cada um dos sinais que tão maravilhosamente tinhas espalhados em ti, quase como se tivessem sido desenhados.

Forcei-me a parar, tomei o duche rapidamente, vesti-me e saí para trabalhar. Cheguei à empresa sem dar pelo trânsito sequer de tal forma o meu pensamento voava constantemente até ti e ao que estarias a fazer naquele momento, se já estarias acordada ou se ainda preguiçavas lentamente, nua como era teu hábito, apenas enroscada nos lençóis… que visão era ver-te dormir. Apesar de tudo fui uma das primeiras pessoas a chegar, pousei as coisas no escritório e fui tomar um café para ver se acordava de uma vez, já que o duche não tinha tido esse efeito. Ao chegar à máquina já lá estava uma das colegas que costumava ser tão madrugadora quanto eu.
- Bom dia Fernanda… disse eu.
- Bom dia, então como está?
Por momentos nem percebi a pergunta, mas rapidamente percebi que se referia à alegada virose que me tinha feito ficar em casa.
- Estou melhor sim… obrigado. Foi apenas mais uma dessas viroses tão típicas nesta altura do ano.
- Pois eu sei, lá por casa os meus filhos também já andam, sabe como é nas escolas, não escapa ninguém, não tarda estou eu também.
Mas não, não sabia… trinta e cinco anos e não tinha nada e nem nunca tinha tido ninguém a sério… muito menos filhos. Nunca tinha mudado uma fralda ou aquecido um biberão, mas o certo é que nunca tinha reparado nisso até aquele momento. Até agora a carreira era realmente o principal objectivo da minha existência, dedicava-me à advocacia por inteiro e a justiça criminal dava-me um gozo fenomenal… agarra-me a cada processo com unhas e dentes e gostava dos casos difíceis, aqueles que não agradavam a ninguém, mas que fazer, sou mesmo assim, gosto de desafios.

Acabei a conversa de circunstância com a Fernanda, tomei o meu café e regressei à minha sala. Uma semana era tempo mais do que suficiente para empilhar trabalho em cima da mesa, sabia que o dia ia ser difícil… só não imaginava o quanto. Antes de enterrar a cabeça no trabalho mandei-lhe uma mensagem… a ela, à mulher que me tinha tirado do sério… à Susana… “Sinto falta do teu cheiro misturado no meu. Beijo em ti… daqueles molhados”. Ao terminar a mensagem com aquele beijo molhado senti um arrepio de excitação percorrer o meu corpo, que loucura e que mulher aquela. Bem toca a trabalhar disse para mim e enterrei a cabeça no trabalho… o fim do dia estava a chegar quando percebi que nem tinha ido almoçar, pelo menos assim tinha deixado os relatórios todos prontos, restava-me agora esperar que alguém cometesse alguma insanidade rapidamente. Até podia ser um pouco egoísta pensar assim, mas era do que eu vivia, da insanidade dos outros.

Dei uma olhadela ao telemóvel em busca de uma mensagem da Susana, já que não me tinha respondido em todo o dia, apenas para encontrar a caixa de mensagens vazia. Sei que não temos nenhum compromisso, mas desiludi-me um pouco ao perceber que não tinha sentido a minha falta após aquela semana, depois pensei apenas que podia ter acontecido alguma coisa que a impedisse de dar noticias, afinal até eu tinha passado o dia inteiro de cabeça enfiada nos papeis… senti o estômago dar sinais de vida, e apercebi-me que tinha fome, levantei-me e fui comer qualquer coisa antes de dar o dia por terminado e regressar a casa.

Estava na sala do pessoal, quando de repente a televisão desperta a minha atenção com um noticiário de última hora, no rodapé lia-se em letras garrafais “GNR PRENDE MULHER ONTEM À NOITE ACUSADA DE ASSASSINAR O MARIDO À FACADA”… sorri amargamente, enquanto ouço um dos colegas dizer…
- Bem, aqui está mais uma que acabou de abrir os olhos, deve ter descoberto que o marido a traía e em vez de lhe fazer o mesmo vai e passa-se da cabeça… podia ter sido mais inteligente realmente.
- Falta saber mesmo se foi por isso, se calhar até lhe batia… - diz outra voz.
Enquanto iam atirando motivos ao calhas eu tentava ouvir a notícia para perceber se era o caso de ir atrás do caso para mim, quando de repente mostram a fotografia da mulher presa e o meu mundo ruiu… Era ela… a Susana, a minha Susana… Só podia ser engano, não era possível. E casada então é que não era mesmo… e aí parei para pensar… afinal que sabia eu dela, durante o tempo que estivemos juntos não trocamos muitos detalhes pessoais a não ser gostos mesmo… de resto convivemos, amamo-nos, fizemos loucuras atrás de loucuras… no quarto, na sala, na cozinha… enfim… agora não era hora de pensar nisso. Susana tinha sido presa e eu tinha que ir até lá para saber porque.

Quando cheguei à esquadra, disse que queria ver a detida Susana Alves e ao apresentar o cartão da firma com a minha identificação encaminharam-me para a uma sala, onde esperei que a trouxessem. No fundo, no fundo, tremia, tal era o nervosismo e o medo perante aquela medonha realidade, mas por fora não dava a entender a mínima emoção, saber controlar as emoções tinha sido até hoje uma ferramenta muito útil na minha área. Ela entrou e mostrou-se surpresa, não contava comigo ali. Abracei-a profundamente primeiro, absorvendo o seu cheiro e sentindo a maciez do seu cabelo junto a mim, depois sem sequer a deixar sentar, olhei-a bem fundo naqueles olhos negros que me faziam perder a cabeça e perguntei friamente…
- Foste tu?
- Fui eu sim…
Respondeu-me e automaticamente deixou-se cair com um suspiro numa das cadeiras que ali estavam. Eu fiquei em branco e a única coisa que soube dizer foi…
- Mas porquê? Porquê?
- Por ti Clara, por ti… disse ela simplesmente.
E eu sentei-me atónita em busca de uma explicação plausível e a única coisa que me vinha à cabeça era que tinha sido por causa da nossa aventura nos últimos dias, afinal segundo tinham dito ela era casada, mas a verdade que iria descobrir era bem mais medonha do que podia imaginar.

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sexta-feira, junho 11, 2010 - 13:57

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