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Diablo - Capitulo 3

Porto Seguro - México- Arredores do Orfanato de Nossa Srªa de Guadalupe- 1995

Aos primeiros raios de sol,Paquito despertou de um sono intenso, como quem desperta pela primeira vez na vida.
A cabeça latejava-lhe fortemente e o cheiro algo queimado invadia-lhe os sentidos.
Paquito não ousou abrir de imediato os olhos, optando por despertar primeiro interiormente e só depois de se aperceber que não fazia a minima ideia de onde pudesse estar, abriu timidamente os olhos.
Aparentemente encontrava-se numa divisão de uma casa desconhecida, e apesar do sol já nascer a escuridão em redor era dominante.
Mentalmente, Paquito tentara recordar-se de como viera ali parar ou do que havia feito. Não se recordava de nada, absolutamente de nada.
Porém, de subito abriu os olhos o mais que pode e assustado, como que se a sua mente lhe estivesse a comunicar algo de grave, manteve-se alerta e tentou distinguir sombras ou vultos na escuridão.
Não ousou provocar o minimo som, optando ao invés por tactear as proximidades de onde se encontrava, em busca de pistas sobre o sitio onde estaria.
Vendo que aparentemente continuava só, Paquito ergueu-se e procurando o feixe de luz que provinha das frinchas da porta, caminhou na sua direcção, quando se apercebeu de um corpo deitado no caminho.
Sem qualquer chance de ver no escuro, Paquito ajoelhou-se e sacudiu o corpo jovem:
-Manito?
Nenhuma resposta surgiu e após mais três tentativas, optou por definitivamente ir procurar algum interruptor, ou alguma forma de luz.
Como um cego, cambaleou pela pequena divisão e então abriu a porta a custo, permitindo que a luz do dia invadisse a divisão e revelasse o que os seus olhos não conseguiram discernir na escuridão.
Com um misto de horror e infortunio, viu o rosto ensaguentado de Manito no solo, e sem perceber como, ou que sucedera correu na sua direcção abraçando-o.
Apercebeu-se do seu peito inerte, da ausência de respiração, no fundo da ausência de sinais de vida.
-Por Guadalupe, que fiz eu?
Num choro incontido, Paquito deixou-se cair perto do corpo do irmão.
Completamente desorientado e sem a minima percepção do que havia se passado, Paquito chorou pela ultima vez na sua vida.
Durante longas horas permaneceu, em choque, quieto perto do corpo do irmão. Passara-lhe pela cabeça correr para o exterior, suplicando ajuda ou implorando pela preocupação de alguem. Mas por outro lado, não sabendo explicar o que sucedera e sendo ele um "filho do orfanato", teria uma carga de trabalhos a justificar-se perante as autoridades.
Dominando os seus instintos infantis e como que amadurecendo rapidamente, o jovem Mexicano ganhou coragem e erguendo-se dirigiou-se para o exterior. Será que alguem mais estaria perto e lhe pudesse contar o que havia passado?
Em passos desorientados saiu para o exterior e toda a coragem, desvanecia-se de novo ante o que via.
Estava num barracão de madeira, em algum sitio que nunca vira ou conhecera. Perto dele não se via ninguem, nem tão pouco casas. Encontrava-se cercado por campos de cultivo e árvores de fruto.
Pasmado, o jovem preparavba-se para voltar para o barracão quando reparou nas pegadas carbonizadas. Pegadas queimadas no solo,claramente visiveis sobre o manto verde.
Com medo, voltou para o barracão, fechando pesadamente a porta atrás de si e deixou-se cair de joelhos no estrado de madeira:
-Porque eu não me lembro de nada? O que eu faço aqui? Onde estou?
A voz cristalina do jovem não obteve qualquer resposta e de súbito vários flashes viera,m á sua mente.
Como um filme sem som, projectados na sua mente, viu Manito a cair, viu o rosto trocista de de Don Rodriguez e de repente, tudo ficara vermelho vivo. Sentia a raiva tomar conta de si e os flashes continuavam, cada vez com maior intensidade até que na recordação que tinha das suas mãos, reparou que estavam em fogo.
Ao rever estas imagens na mente, era como se o tivessem a socar fortemente na barriga, e dobrado no solo, em posição fetal, Paquito começava agora a recordar-se de tudo com mais nitidez, até que instintivamente levou a mão ao medalhão e uma explosão de fogo sucedeu.
Sem saber como o corpo de Paquito era um corpo de chamas, de fogo vivo, mas não o queimava.
Procurou desesperadamente um espelho e ante a claridade provocada pelo seu corpo reparou que as pegadas incandescentes eram suas.
Maravilhado pela transformação, mesmo com a incrivel sensação que a cabeça lhe ia explodir, Paquito sorriu. Um sorriso franco e rasgado, um sorriso de menino que encara pela primeira vez um presente.
Na verdade sentia-se maravilhado com o poder alcançado e apesar de ter resistido á tentação inicial de descobrir mais variantes do poder, um receio o assolou: Como faria para voltar ao normal?
Tentou primeiro agitar os braços para ver se o fogo se extinguia, mas depressa concluiu que tal exercicio apenas servia para aumentar mais o fogo. De seguida, experimentos ordenar mentalmente que o fogo se extinguisse, mas tambem percebeu que o poder mental não era uma das suas caracteristicas.
Enérgicamente atirou-se para o chão, tentando apagá-lo, mas tal não aconteceu, ao invés o soalho de madeira preparava-se para reagir violentamente numa combustão. Foi quando se levantou, que pela primeira vez desde que redescobrira o poder se lembrou da presença do corpo do irmão.
Porque não o queimara? Como o conseguira transportar?
A sua cabeça começava agora a girar em desnorte e tomado de pânico perante a impotência do dominio do novo poder, o jovem sentiu o ar faltar e a garganta tremer. O choro seria uma atitude lógica não fosse uma voz, interromper:
-Vais tentar atirar-te para dentro de um rio, para exterminares esse fogo?
Numa reacção intuitiva, as chamas ganharam altura encobrindo-o e simultaneamente aumentando a claridade dentro do barracão, tendo Paquito olhado para a direcção da voz:
-Eh calma lá. Abranda isso ou ainda fazes um churrasco de um pobre velho!|
Sentado perto da cama onde estivera deitado, um sujeito de idade avançada, agarrado a um velho cajado de madeira olhava-o divertido:
-Quem és?
-Oh, quem eu sou não é importante. Diz-me e tu sabes quem és?
-Eu? Ora eu sou Paquito de Villar e...não, não sou esse fraco. Eu sou ...sou...
-Um jovem confuso e atormentado pelo poder do fogo!
-Como entras-te aqui e quem és?
O velho ergueu-se lentamente e após pronunciar umas frases estranhas, acenou com a mão em direcção a Paquito, extinguindo o fogo e fazendo o jovem cair pesadamente no chão:
-Agora que tenho a tua atenção, vamos conversar!
-Como fizes-te isso?
-Uma coisa de cada vez...
-Mas eu gostaria de saber como?
O velho acenou negativamente a cabeça, sentou-se novamente e de um bolso do casaco retirou um cachimbo de maçaroca de milho que prontamente atacou com tabaco cuidadosamente retirado de uma bolsa de cabedal e sorrindo, acendeu-o com a ajuda de um fósforo. De seguida ergueu-se, abriu um pequeno postigo de forma a permitir a entrada de luz e começou a esclarecer:
- O meu nome é Balam, sou muito antigo e garanto-te que aparento ser bem mais jovem que a minha idade realmente o diz.
-Mas o que eu quero saber...
-Se vamos trabalhar juntos, agradeço que não me interrompas, ou serei forçado a retirar-te o poder da voz.
Os olhos castanhos do jovem incidiam irónicamente no velho, mas por defesa ou medo, permaeceu calado:
-Como te disse sou muito antigo. Na verdade pode-se dizer que descendo do tempo dos Maias. Quando a civilação Maia existia!
-A minha mãe falava desse tempo. Contava-me histórias de encantar...
-A tua mãe é uma mulher excepcional, mas a seu tempo falaremos dela. Agora prefiro falar desse amuleto que carregas...
Instintivamente o jovem pousou a mão sobre a camisa e apercebendo-se que o medalhão nunca esteve visivel, sentou-se e concentrou-se na figura do idoso:
-Sabes, esse amuleto é especial. Na verdade é unico e concentra nele toda a esperança para a salvação deste Mundo. Dada a importância de tal amuleto, eu e a tua mãe achamos que Manito seria o guardião ideal para tal sorte, mas era importante retirá-lo de casa, onde poderia facilmente ser encontrado por quem não podia.
Paquito riu desconcertadamente e encarando o velho, ripostou:
- Que grande Lenga Lenga!
-Ouve Pirralho, apenas ouve! Não fazes ideia do que te metes-te e do que está em jogo!
O Tom severo da voz do idoso, semelhante a um mini trovão:
-Esse medalhão, como dizia, deveria estar sempre á guarda de Manito. Manito sai ao pai é equilibrado e sabe distinguir o bem do mal, tu infelizmente és uma criança mimada e covarde.
-Como ousa...
-De qualquer forma desconheço como o amuleto foi parar ás tuas mãos. mas a verdade é que ele escolheu-te. Ontem activas-te o poder do Amuleto e é por isso que aqui estou. Esperei muitos e muitos anos, talvez até demais...agora nada pode voltar ao que era.
-Mas o amuleto escolheu-me?
-O amuleto funciona apenas em pessoas de coração puro e invioláveis psicológicamente. Soube do que fizes-te e estou aqui, para te impedir de colecionar mais mortes.
-Vais-me prender?
Balam riu pesadamente e olhando severamente o jovem, alertou:
-Paquito, não existe prisão alguma que te poderá conter, nem arma alguma que te poderá matar. Sem querer, ou talvez por coincidência accionas-te o botão do teu pior pesadelo e a história por fim seguirá o seu rumo.
-Não entendo...sou indistrutivel?
-Ah não pobre jovem. Para nós mortais talvez sejas, mas se a profecia estiver certa, um ser virá se apoderar do amuleto. Um ser Maléfico, poderoso, esse sim capaz de te matar.
-Mas eu posso viver escondido!Q
-Não. Não há canto algum onde te possas esconder desse teu Fardo. Mais cedo ou mais tarde irás sentir raiva e automáticamente serás envolto em fogo. A tua missão é a de ajudar os indefesos e não necessáriamente matar crianças.
-Matei?
-Bastantes!
-Mas eu...
-Caluda, temos de começar a dominar esse teu feitio.
Paquito olhou de soslaio para Manito:
-E ele?
-Ele? Será sepultado á porta do barracão. Ninguem poderá relacioná-lo com o Orfanato.
-Mas a mãe...
-Ela já sabe, já chorou. A vida agora deve seguir outro Destino.
Paquito ajoelhou-se beijando a face branca de morte do irmão e sem verter uma lágrima, encarou o ancião e concordou:
- Seja como dizes! Ensina-me!
-Assim o farei. Mas por agora deixarás de ser Paquito, para seres um pobre diabo.
-Diablo? Gosto!

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quinta-feira, fevereiro 24, 2011 - 10:33

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