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Dias de Azar VII

- Um dia quem sabe miúdos, quando deixar de ter tanto trabalho, prometo ir visitar-vos. – Ana queria mesmo visita-los, já não aguentava tanto stress. O hospital era a sua casa, mal habitava o apartamento luxuoso que comprara no centro de Viseu.
Marisa não poderia sair do hospital sem se despedir e prometer a todos os meninos ali internados que voltaria para brincar com eles. Marisa era afável e carinhosa, daquele tipo de raparigas que nasceram para ser mães, espalhava magia por onde passava, Renato olhava-a carinhosamente com um brilho nos olhos, nunca pensara encontrar um ser humano tão perfeito para partilhar a sua vida.
- Adeus meninos, voltarei para brincar convosco e para vos dar forças! – Ana estava fascinada com o sorriso de todas aquelas crianças, Marisa era a única pessoa nos últimos tempos que trouxera alguma alegria e esperança aquelas crianças. As lágrimas corriam pela cara de Marisa, efectivamente sabia que quando voltasse ali alguns daqueles meninos já teriam falecido, isto porque muitos deles já não tinham qualquer esperança de vida, era apenas uma questão de meses, talvez dias. Enquanto caminhava de mão dada com Renato, pelo longo corredor, perguntava-se: porquê que Deus deixa que estas crianças morram assim? Ainda têm tanto para dar ao mundo, afinal são apenas meras crianças. Renato percebe que algo se passa de errado:
- Que se passa?
- Não consigo perceber porquê que estas crianças estão condenadas à morte, sem terem cometido qualquer tipo de erro… - Renato voltasse para ela, chega-a para junto dele e dá-lhe um beijo na testa:
- Meu amor, enquanto estavas ali a falar com eles, também eu me estava a questionar sobre isso… - Marisa não o deixa terminar:
- Não podemos pôr em causa os desígnios e a vontade de Deus. De certeza que todos eles vão para o céu olhar por nós. Neste mundo eles apenas sofrem e são apenas crianças, portanto Deus prefere que eles não sofram e sejam os nossos anjos da guarda. – Renato movimentara a cabeça, como dizendo que sim. Na verdade ele próprio estava desolado com o que ali tinha visto.
Dirigiram-se ao carro, Marisa não conduzia desde aquele dia trágico. Sentia saudades de pegar num carro, por isso mesmo pede a Renato:
- Deixas-me?
- Obvio, o que é meu é teu! – começava ali o cumprimento do contrato de matrimónio, ou seja, a partilha de objectos.
A uma velocidade considerável, circulavam de vidros abertos, conversavam alegremente sobre a sua nova casa e os planos para futuro. Faltavam apenas 20km para chegarem a casa, quando uma operação stop os manda parar:
- Boa tarde menina! Os documentos do carro e carta de condução por favor. – Marisa pega em todos os documentos e apresenta-os rapidamente ao polícia, este rectifica-os e manda-os seguir. Apenas uma coisa errada, Marisa apresentara os documentos do seu carro e o polícia não dera conta, o que provocou algumas gargalhadas e uma breve consideração sobre a falta de competência das forças policiais.
Eram já 13 horas quando chegaram a casa dele, apesar de já lá ter entrado um milhar de vezes, Marisa sentia-se nervosíssima sempre que lá entrava, isto causava uma certa confusão a Renato que nunca entendera o porquê de tantos nervos:
- Entra amor! – Marisa sorriu, entrou devagar, mal Renato pousa as chaves de casa, Patrícia aparece correndo e salta nos braços de Marisa, enchendo-a de beijos, esta fica sem reacção, apenas lhe faz uma festa na cabeça e diz:
- Tanto entusiasmo miúda! Parece que já não me vias à 50 anos… - no dia em que se soube que Marisa se encontrava curada, Patrícia não pode comparecer no hospital, uma vez que se encontrava na escola, preparada para realizar mais um teste de preparação para os exames nacionais que iria realizar naquele ano lectivo. Marisa sentia-se uma privilegiada, tinha o amor da sua vida do seu lado e uma família perfeita, o que poderia desejar mais?
Um cheiro a lasanha vinha da cozinha, Renato agarrou-lhe na mão e quase a arrastou para lá. Para além de excelente cozinheiro Renato, tinha também uma boa memória, sempre que era necessário preparar uma surpresa, este lembrava-se de todos os gostos. No fundo Marisa tinha ao seu lado um ser humano impecável, capaz de tudo por amor. O cheiro a lasanha era delicioso, Marisa era incapaz de resistir à pergunta:
- Quanto tempo demora a estar pronto?
- Tem calma querida, está quase, só falta pôr-lhe um bocadinho de queijo mozarella e está pronto a comer. – desde que estivera internada, estava absolutamente proibida de comer qualquer tipo de cozinhado que tivesse queijo e carne de porco, por isso apenas se alimentava de saladas. Emagreceu bastante todo aquele tempo, todos os tratamentos lhe tiravam o apetite e por vezes a comida metia-lhe nojo, deixando tudo no tabuleiro trazido por Ana.
Esperou uns breves 15 minutos, a travessa de vidro transparente saíra fumegando do forno, todos se dirigiram até à sala. Apesar de na educação de Marisa, ser extremamente mal educado servir-se primeiro que os proprietários da casa, desta vez não conseguira controlar a sua vontade de provar a iguaria preparada pela mãe de Renato.
- Está deliciosa…
- Não me agradeças a mim pelo belo prato preparado!
- Então agradeço a quem? – Marisa estava intrigada. Renato não poderia ter preparado nada, já que estivera toda a manhã com ela. Só sobrariam duas pessoas: o pai de Renato e a irmã.
- A Patrícia fez questão de te preparar o almoço com toda a dedicação. – o sorriso típico de Marisa aparecia lentamente, era obviamente lisonjeante aquela atitude de Patrícia. Ao longo do tempo Marisa transformara Patrícia numa pessoa menos rancorosa e fechada.
- Obrigada pequena! – estava a ficar ligeiramente envergonhada.
- Ups, não fui obrigada a nada, penso eu… - Patrícia sentia-se extremamente feliz por naquele dia poder ajudar a mãe e poder afirmar que tinha feito uma surpresa a Marisa. A relação de ambas era muito mais que uma relação familiar, era uma relação de forte amizade, fortalecida pela doença repentina de Marisa. Durante todos os meses em que Marisa se encontrava hospitalizada, Patrícia fazia questão de todos os fins-de-semana a ir visitar, apesar de lhe custar ver a sua melhor amiga deitada numa cama de hospital, débil e frágil. A tarde continuou alegremente, jogaram-se cartas e jogos, conversou-se sobre tudo e mais alguma coisa.
Estava na hora… Teriam que contar aos pais dele que viviam juntos em Viseu. Provavelmente aquela afirmação iria fazer tremer a sólida família que se encontrava à frente deles:
- Mãe, pai tenho que vos revelar uma coisa… - o pai não o deixa terminar:
- Vou ser avó, é isso? – pai dele brincava, sabia perfeitamente que ambos, só tomariam esse passo, quando acabassem os seus cursos e tivessem a sua vida em condições, para darem uma boa vida ao ser que viria a caminho.
- Achas pai? Esse passo só quando a nossa vida estiver direitinha e podermos dar tudo a uma criança! – apesar de serem ainda muitos jovens, ambos tinham os pés bem assentes na terra, o que na juventude de hoje em dia não é normal ver-se.
- Então contém-nos o que é! – Patrícia questionava o irmão, mas já sabia de tudo. Tinha sido a primeira pessoa a saber de tudo, e a apoiar a atitude, isto porque de facto viver sozinha numa grande cidade, tornar-se-ia perigoso para Marisa.
- No tempo em que estivemos a estudar em Viseu, vivemos juntos. Espero que não fiquem chateados, só por termos dito agora… - o silêncio instalou-se.
- Falem por favor…- Renato e Marisa imploram ao mesmo tempo por resposta. Ambos odiavam o silêncio numa conversa.
- Não é admissível… têm noção do que poderia ter vindo dessa convivência de 24 horas por dia? – mãe dele dissera aquilo para os assustar um pouco, no fundo sabia que Renato era muitíssimo protector e deixar Marisa sozinha, não fazia parte do seu papel de namorado. Ambos ficam cabisbaixo, pensativos.
- Não é preciso ficarem com essas caras, estava só a brincar. Por mim está tudo bem, aliás sei que o meu filho nunca deixaria a namorada sozinha! – sorriu.
- Meu deus, assustou-me a sério! – Marisa sabia que os pais de Renato eram muito mais abertos aquele tipo de situação que os seus pais. Como iriam contar aos seus pais? Simplesmente teriam de adoptar uma boa táctica. Patrícia toma a palavra:
- Eu só quero dizer uma coisa: eu sabia de tudo isto, ou seja, sou cúmplice deles nesta omissão de verdade. – a mãe sorri:
- Eu sabia que vocês os 3 me escondiam qualquer coisa, mas nunca poderia desconfiar que fosse isto. – era engraçado como 3 miúdos, sim porque eram ainda muito jovens, conseguiam manter aquele segredo sem que ninguém desconfiasse de nada.
Eram 20 horas, tinham combinado com os pais de Marisa, irem jantar a casa deles, foi o que fizeram após Renato pôr todos os objectos na sua mala, para após o jantar, se dirigir para a sua nova casa. Marisa conduziu o carro até casa dos pais, pela primeira vez sentia-se sem medo de pegar num carro e conduzi-lo:
- Parece que perdeste o medo de pôr as mãos no volante!
- É verdade, sinto-me como nova meu amor!
Quando chegaram a casa dos pais dela, já o pai se encontrava ao portão á espera deles. Foram recebidos calorosamente. Mais um prato da preferência de ambos: pizza. Parecia que toda a família sabia as preferências de ambos e que faziam tudo para agradar.. Na verdade é mesmo isso que distingue as boas famílias das más. As boas famílias geralmente fazem os impossíveis para agradar e evitar problemas, enquanto as más, tentam apenas agradar á parte que lhes é chegada, criando por vezes problemas entre os casais. Era o último dia de Marina e do seu marido no país, por isso a noite durou até mais tarde. Após largos minutos de conversa, decidem divulgar o seu segredo mais bem guardado, Marisa começa:
- Queríamos partilhar convosco o nosso segredo do último ano…
- Que é…- a mãe de Marisa estava impaciente. Os olhos dela não sabiam se queriam chorar ou brilhar.
- Enquanto estivemos em Viseu a estudar… - o pai não a deixa terminar:
- Desembucha rapariga!
- Eu e o Renato, partilhamos a mesma casa, durante o último ano. Eu sentia medo de estar sozinha na casa que me foi cedida pela faculdade, para além de mais sentia-me completamente deslocada das pessoas que viviam comigo, por isso mesmo falei com o Renato e com os colegas dele de casa, e todos eles concordaram em que eu fosse para lá e os ajudasse a pagar todas as despesas. – a expressão facial dos pais dela alterava-se drasticamente, parecia um misto de tristeza e de admiração.

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domingo, agosto 1, 2010 - 16:17

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lau_almeida

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Re: Dias de Azar VII

Renato olhava-a carinhosamente com um brilho nos olhos, nunca pensara encontrar um ser humano tão perfeito para partilhar a sua vida.

Verdadeira pérola, igual a tantas outras que explanas, num modo seguro.

Parabens.

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Re: Dias de Azar VII

Obrigada :)
beijinho*

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