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Enquanto eu recordar

(Alzheimer ou/e uma pequena história sobre o amor e esquecimento)

                                      - Enquanto eu recordar -
                                     (é o amor que nos salva!)

"Há algum tempo circulava por aí uma história que, já não sabendo bem de todos os detalhes, mesmo assim me apetece e permito contar, pedindo o antecipado perdão de V.Exas.

Uma mulher num estado avançado de Alzheimer, não reconhecendo ninguém, foi internada pelo marido que já não podia dela cuidar devido à idade de ambos.
No entanto, diariamente a visitava, vindo de longe, não sem antes passar pelo café próximo do lar, tomar uma bica e comprar um bolo para lhe levar, um daqueles que ela sempre gostou desde que se apaixonaram e foram felizes, num tempo que lhe parecia já longínquo.
Aproveitava para dar dois dedos de conversa com o proprietário do café a quem ia contando a sua história e a evolução da doença da mulher.
Passados alguns meses deste ritual, e sabendo o proprietário do estabelecimento o estado da mulher daquele homem de idade e o sacrifício que ele fazia para a visitar por morar longe, questionou-o sobre o interesse de todos os dias ele fazer o que fazia, sabendo que ela não o reconhecia nem dava pela sua presença. Valeria a pena?
Respondeu o homem, com lágrimas a aflorar nos olhos cercados de rugas: Ela pode não saber quem é e quem eu sou, mas eu nunca me esquecerei de quem ela foi.

Para terminar esta pequena história sobre o amor e esquecimento, e como aqui tudo é permitido, desde os maiores disparates às mais estranhas opiniões sobre a vida ou política, e falando por experiência própria, há muitos anos atrás optei, debaixo de fortes críticas, por prejudicar a minha vida profissional, deixando praticamente de exercer a minha actividade durante três anos, para tomar conta da mãe da minha filha, com cancro de mama, em vez de a deixar a cargo de estranhos durante o dia.
Já perto do fim que atalharia o seu sofrimento, enquanto a ajudava com dificuldade a erguer para comer, ela deu-me um beijo no braço que a sustentava e disse um sumido "obrigado". Perguntei-lhe meio a sorrir, meio apanhado de surpresa, que disparate era aquele e o que estava a agradecer. Respondeu, olhando nos meus olhos: "obrigado, por seres quem és".
Estas palavras valeram por todos os sacrifícios, por todas as críticas e por toda a dor que aqueles anos significaram.
Hoje, por alguém que ame, se necessário, voltaria a fazer tudo de novo sem olhar para trás.
Ninguém salva ninguém, é verdade. Mas todos nós precisamos de ser salvos. Eu aprendi que só o amor nos salva.
Só morremos, só desaparecemos, quando aqueles que amámos, amamos, nos amaram e amam, não se lembrarem mais de nós.
No mundo em que vivemos, egoísta e de amores fugazes e efémeros, em que o prazer imediato e a sofreguidão do divertimento regem a vida, o futuro breve será o de muitos milhões de pessoas a viverem sós, mesmo acompanhadas (o que é pior), e a morrer esquecidas.
Aproveitem pois, enquanto podem, para viver o amor correctamente e a construírem o espaço onde, um dia, alguém se lembre quem são, quem foram e o que representaram para ela."
 

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quarta-feira, dezembro 14, 2011 - 04:39

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