CONCURSOS:
Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia? Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.
A formiga e o mundo... vasto mundo
Nem sei como pude parar a tempo. Foi tudo muito rápido. Num mesmo instante, senti-me coagido a obedecer ao hábito e esmagá-la e senti-me admirado por ver o tamanho da carga que ela levava. Não lhe pisei.
E por que não? Que importância teve esse gesto na ordem do cosmo? Será que foi ali que eu assumi meus poderes divinos de decidir entre a morte e a vida? Será que ela soube da iminência da própria morte?
Por que eu não a esmaguei?
- Porque você é bom e poupou uma das criaturas do Senhor.
- Porque você é um filho da puta e a condenou a continuar suportando cargas imensas, sem nem mesmos saber porque...
§§§
A carga, a vida, a morte e o esmagamento. Atos singulares, divididos e, no entanto, unos na desimportância do que nem sabemos.
Qual a diferença entre tê-la esmagado ou ter deixado que as cargas da vida o fizessem de modo mais lento e cruel?
- Não digas isso, pois o excesso de cargas é que haverá de enrijecer os seus músculos e a sua alma.
Qual a diferença entre a morte instântanea e única e a repetida diariamente?
Eu! Eu sou a diferença! Sou o destino, sou o deus da morte e da vida.
Eu deveria tê-la matado. Seria delicioso desafiar o maldito que nos condena a morrer mil vezes sob as cargas sem sentido de Sisifo.
E delicioso seria contar que eu fiz, enfim, a verdadeira revolução e libertei a pobre escrava da folha verde.
Sim, delicioso, olhar, ouvir e sentir os "bons" recriminando-me; vociferando as suas ladainhas de frases feitas e pensamentos pequenos.
Não percebem, tolos, as próprias cargas que carregam e o quanto é medonho o consolo que lhes ordena fingirem-se felizes.
Pouco sabem da falta de sentido que nos permeia. Pagam contas, buscam parceiros, copulam e trabalham (sim, pois é isto que nos enobrece...).
Maldições haverão de proferir contra o velho louco, comunista, anarquista e ultrapassado.
Alguns, talvez, tentarão compreender o meu ato e terão paciência com minha demência (rima inoportuna...). Dirão outras frases e citarão teorias psicanaliticas que fazem muito sucesso nos Estados Unidos da América (sim, é claro que essa lhes é a referência...). Repetirão o que leram em edificantes livros de auto-ajuda e pedirão que algum santo me acuda (outra rima maldita...).
São piores que os outros, pois, como aqueles, querem matar-me, mas, também, querem fingir a inocência de serem "bons", modernos e descolados. Politicamente corretos, antenados com a nova moral dos dias sem preconceitos (G. não faz ideia que preconceito é sinônimo de pré julgamento).
Um homem que trabalha na televisão, berra que os "bandidos" matam "inocentes" e eu me pergunto quem será quem? A arrogância da bondade me irrita.
Vai, formiga, mas não me olhe mais...
*Trecho extraído da obra de Carlos Drumonnd de Andrade, "O Poema das Sete Faces".
Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, verão de 2015.
Submited by
Prosas :
- Se logue para poder enviar comentários
- 795 leituras
other contents of fabiovillela
Tópico | Título | Respostas | Views | Last Post | Língua | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Geral | Foto | 1 | 1.944 | 07/04/2009 - 21:41 | Português | |
Poesia/Aforismo | "Vivere Est" | 2 | 2.097 | 07/07/2009 - 17:57 | Português | |
Poesia/Dedicado | Isabel | 1 | 2.683 | 07/08/2009 - 12:08 | Português | |
Poesia/Tristeza | Outono | 2 | 1.896 | 07/09/2009 - 18:26 | Português | |
Poesia/Geral | Por quem | 1 | 1.957 | 07/12/2009 - 20:19 | Português | |
Poesia/Geral | Bruxas | 2 | 2.144 | 07/14/2009 - 13:56 | Português | |
Poesia/Geral | Folhas e Almas | 3 | 1.748 | 07/14/2009 - 13:58 | Português | |
Poesia/Geral | Volte Sim | 2 | 2.068 | 07/14/2009 - 15:27 | Português | |
Prosas/Outros | DEUS, O HOMEM E O VINHO | 1 | 3.143 | 07/14/2009 - 16:08 | Português | |
Poesia/Geral | Você e o Sentido | 1 | 1.406 | 07/15/2009 - 15:06 | Português | |
Poesia/Geral | O Viver Geométrico | 2 | 1.500 | 07/16/2009 - 03:20 | Português | |
Poesia/Amor | Poesia, rima e vida | 2 | 2.245 | 07/17/2009 - 11:55 | Português | |
Poesia/Amor | Poema Leve | 3 | 2.152 | 07/17/2009 - 15:51 | Português | |
Poesia/Soneto | Denso | 3 | 1.853 | 07/18/2009 - 15:11 | Português | |
Poesia/Geral | Minotauro ou Astérion | 3 | 1.888 | 07/18/2009 - 22:10 | Português | |
Poesia/Geral | Bourbon | 2 | 2.285 | 07/19/2009 - 17:09 | Português | |
Poesia/Geral | Catedral | 2 | 2.513 | 07/21/2009 - 13:20 | Português | |
Poesia/Geral | Sal | 2 | 2.141 | 07/21/2009 - 16:40 | Português | |
Poesia/Geral | Saudades Estranhas | 3 | 1.470 | 07/21/2009 - 17:35 | Português | |
Poesia/Geral | Caminho da Memória | 3 | 1.468 | 07/22/2009 - 13:41 | Português | |
Poesia/Geral | Quintais | 2 | 1.138 | 07/22/2009 - 14:46 | Português | |
Poesia/Dedicado | João Guimarães Rosa, Ave! | 3 | 1.885 | 07/22/2009 - 17:21 | Português | |
Poesia/Geral | Os Cegos | 2 | 1.684 | 07/23/2009 - 15:19 | Português | |
Poesia/Geral | Que | 0 | 3.144 | 07/23/2009 - 20:35 | Português | |
Poesia/Geral | Queria | 3 | 2.332 | 07/24/2009 - 05:17 | Português |
Add comment