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A Incógnita de nós

O amor pode matar mas matar-nos assim por dentro mas sem permitir que nada em nós morra.
 
Um dia, um dia cruzámos o olhar e o tempo parou como as vozes que se abraçavam do outro lado da linha todos os dias, várias vezes por dia, horas... Um dia, um dia achei conhecer-te desde sempre e não havia nada estranho na estranheza da cumplicidade.
Estivemos sempre juntos, naquele dia, no anterior e no outro... e agora, agora sinto-te a meu lado ainda a sussurar o silêncio de carinhos e beijos lânguidos no meu corpo inerte de cansaço e amor, completamente desarmada por ti em ti. Dois estranhos da terra do nunca que nunca foram estranhos não são. Não somos.

Naquele dia o mundo parou e nós parámos com ele, achei eu que sempre pensei jamais cair nas malhas do amor.
Ainda sinto o teu toque, vejo-te ainda a olhar para mim numa espécie de implorar "não vás" em silêncio. Não quero ir. Não quis sair e queria tanto, queria por me ser tão difícil não querer virar as costas para nunca mais te ver. Eu sabia. Tu sabias. Não quisemos saber. Sonhámos juntos mundos a dois, a três num espaço de pequenos nadas que te dei a dar tudo de mim, a dar-me a ti assim de mão beijada como quem dá uma esmola a um pedinte desconhecido no meio da rua e vira costas mas fica presa ao momento, à face desconhecida a revelar intimidade, a familiaridade de um ser único que nos completa e desperta curiosidade. Queremos ficar. E ficamos. Fiquei eu. Ainda hoje me pergunto se ficaste, se foi tudo forjado, fingido, manipulado ou apenas fruto da minha imaginação.
 
Sonhei contigo o que nunca me permiti sonhar com ninguém. Sonhei contigo noite e dia, dias eternos. A voz a tua voz, o riso, a leviandade das palavras, a intensidade da força que nos unia ao escândalo de sermos um sem sermos nada um no outro a teimarmos sermos maiores que a força que nos separava, separa... e dói. Dói tanto como a morte e queria poder voltar a dizer-te que serei tua para sempre, que não consigo amar mais ninguém como te amei a ti, como te amo, e sinto raiva, raiva de mim. Não te vou dizer nada, apenas te direi como naquele outro dia em que tiveste um momento de... de fraqueza? solidão? falsidade novamente? Manipulação? E disseste outra vez levianamente "há momentos em que a saudades apertam. mas agora precisava mesmo era do teu aperto. esse leve doce e longo abraço que me tem acompanhado, onde um beijo seria uma sincope desafinada bem vinda." e em que te respondi na mentira que me corrói por dentro "Foram tempos que já passaram, onde só a memória dos mesmos ficou..." MENTIRA. Como podia eu dizer-te que te amo? A ti que nunca me amaste, que me forjaste e eu deixei que o fizesses assim como quem se senta num banco de uma estação a ver os comboios a passar e desconhecidos, mares de faces desconhecidas a caminhar em compassos desconcertados. Há nisto tudo uma harmonia e ao mesmo tempo uma consciência de que a vida nos foge por entre os dedos das mãos se o permitirmos, se nos permitirmos a ficar ali, sentados. Meros espectadores da nossa vida.

Ainda sinto o teu toque, o teu braço nas minhas costas, a suavidade e o calor dos teus lábios a percorrerem cada centímetro da minha face a desfalecer de ternura, a querer ser mais sem querer por medo de saber o que sabia tão bem, que nunca mais nos iamos voltar a ver. Quis ficar, ir contigo, fugirmos juntos - para onde não importava. - Nada interessava a não seres tu. Tentei seguir a minha vida. Tu seguiste a tua. Distantes cada vez mais distantes como só a ternura pode saber o que é a ferida que me sangra no peito e não consigo amar. Não te consigo amar e continuo a amar-te. Tenho medo de não voltar a ser capaz de amar.

Sabes, tive medo de nós. Depois veio aquela repulsa de ti, um amor-próprio sobrevivente que fazia com que me levantasse todas as manhãs e decidisse voltar a mimar-me como tu um dia fizeste. Agora a repulsa abandonou-me, o medo de nós deixou de fazer sentido, o nós não deveria fazer sentido. Não faz. Ontem não, hoje não, amanhã não. Não quero querer por querer sem que queiramos querer sermos melhores do que fomos e quero querer saber que assim teria de ser, longe do nós a fazer sentido num sentido sem explicação traduzido em momentos de fraqueza que serão ternura descarada a ser força maior que me move a parar dentro de mim.

Sempre achei que o caminho - sabes, o nosso - seria assim. Um e um nunca serão dois números juntos.

Sempre achei que tudo era um sonho, mas queria-o para mim.

Sempre achei que no fim te irias sentir completo nos braços de outra pessoa e eu passaria a fugir de abraços como fujo de ti.

Sempre achei que algum dia tudo isto faria sentido, mas ainda não faz.
 
Sempre achei que vou viver com isto cravado em mim, e sei que em ti. Mas isso não importa, já nada mais importa nesta história que fomos nós.

E pensei que um dia te poderia mostrar estas palavras mas neste momento não acho certo. Levantar poeira lágrimas e furtar-te a alegria e a vida assim a sentir-me ladra do teu coração. Vou-me deixar estar contigo em mim, a fazer parte de cada gesto meu, da imagem reflectida no espelho, do simples acto de beber um café (lembras-te que me disseste que às vezes levavas os dedos ao nariz depois de beberes café apenas para guardares o seu cheiro. Gostavas disso), dos beijos que sinto queimarem-me a pele, do abraço sufocante que levou parte de mim, do auto-toque (isto inventaste tu para mim, mas também o fazias), de te ver por todos os cantos da cidade e sentir o coração a saltar-me do peito na iminência de nos voltarmos a cruzar algures, e de me sentir estúpida e tão conscientemente crédula de que já não te conheço, e vou rever a tua fotografia a querer à força guardar a tua imagem, do que eras quando fomos... quando não fomos nada na verdade.

Mas sabes... já não conheço os traços do teu rosto, nem o teu andar, nem a tua forma de colocares as pernas quando estás parado, nem o carinho imenso do teu olhar em mim, das faíscas do nosso olhar que iluminavam a noite, nem da tua voz, do teu sorriso, do formato da tua boca, do calor da tua nuca, o toque da tua pele, do teu cheiro que ficou em mim dias sem fim... e das tuas gargalhadas de Muttley.

Mas sabes... sei que vou saber que és tu. O coração não mente, nunca mente. E mesmo à distância imensa que nos separa nunca estivemos longe nem um só segundo.
 
A um amor que não foi, que foi um quase nada quase tudo. Uma ilusão a fazer-se passar por real desmascarada no reflexo do espelho onde me olho todos os dias de manhã... fugazmente sem te ver.

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terça-feira, setembro 25, 2012 - 06:37

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