CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

Mico Preto

 

A primeira lembrança que eu guardo da nossa infância, começa na praia. Nosso pai nos levava sempre que podia. Nessa época, éramos apenas três. E foi quando aprontamos as primeiras peraltices. Não sei como, me separei da mãe e fiquei perdida na praia. Devia ter uns três ou quatro anos. Uma senhora me encontrou e ficou comigo, até que a mãe me encontrou. Depois de alguns dias na praia, o Davi Nathan, meu irmão do meio, ficou gripado. A mãe pediu a ele que fosse buscar o xarope, que ficava na boleia do caminhão do meu pai. Ele saiu correndo, encontrou o xarope e tomou todo o conteúdo do frasco. Até por isso, sempre dizíamos que ele nunca ficava gripado.
Nossos brinquedos eram os mais simples possíveis. Quando chegou o Natal, estávamos ansiosos para ver o que o Papai Noel havia nos trazido. Procuramos pela casa toda e os  meus  irmãos descobriram, escondido embaixo da cama, dois caminhões de madeira, imitando o que nosso pai tinha. Eu ganhei um carrinho de boneca, também de madeira. Bonecas eu também não tinha. Numa viagem que fizemos à Porto Alegre (e a viagem era longa) eu comecei a ficar impaciente. Então minha mãe pegou algumas roupas e improvisou uma boneca de pano. Eu achei que podia fazer melhor. Então desmanchei a boneca e tentei fazer de novo. Claro que não consegui. Meu pai transportava gasolina no tanque do caminhão. Na volta para casa, minha mãe perguntou se eu queria voltar com o pai. Eu disse que não. Já nessa época, a minha intuição já funcionava. Meu pai capotou o caminhão, que despencou em um barranco. Ele não se machucou, mas se eu estivesse junto, ele teria caído por cima de mim.
Fomos crescendo e precisávamos inventar outras brincadeiras. Para o meu irmão Naor, a mãe montou uma oficina de marcenaria. Com soldador elétrico e tudo o mais. Era ele que fazia os meus brinquedos. Cortava as latas de azeite e com elas fez um fogão,que funcionava com álcool, uma geladeira (gelava com pedras de gelo) e muitos outros brinquedos que ele inventava. Até que certo dia, eles resolveram que queriam trabalhar. Como eram muito pequenos ainda, a mãe só permitiu que fizéssemos picolé e vendêssemos para a gurizada da vizinhança. E eles iam lá comprar. Quem ficava com o dinheiro era quem abria a porta  primeiro. Num desses dias, eu fiz uma venda e guardei o dinheiro no elástico do pijama. É claro que não deu certo. Perdi o dinheiro e o direito a vender picolés.
Tínhamos no pátio de casa um enorme pé de abacateiro. E ali vinham se aninhar várias pombas. Elas eram mansinhas e os amigos do Davi resolveram que queriam comprar. Ele vendeu a primeira e no que pode, ela voltou para o pé de abacateiro. O amigo do Davi foi  lá em casa muito triste, dizer que a pombinha tinha sumido. Negociante como só ele, resolveu vender a pombinha novamente. Não precisa dizer que ela sempre voltava e era vendida de novo...
O mais engraçado de tudo, era que o Davi era muito esperto. Nos dias de chuva, ficávamos dentro de casa e tínhamos um baralho com figuras de animais. Era um quarteto. Tínhamos que jogar entre quatro e perdia quem ficava com a figura do mico preto. Não sabíamos o que ele fazia para ganhar sempre. O que acontecia era que ele tinha uma memória muito boa. Ele perguntava para um de nós, se tínhamos determinada carta e se não tínhamos, sobrava apenas três alternativas.  Com um dos outros três, a carta tinha que estar. Na próxima rodada, ele perguntava para outro e acabava sempre formando vários quartetos. Quem ficava com o Mico Preto? Com certeza, sempre era eu.
E assim se passaram alguns anos. Minha irmã Zair nasceu e eu fiquei encarregada de cuidar dela. Um dia, coloquei-a  dentro de uma caixa de papelão, que estava do lado de fora da cozinha. E ficamos brincando. Foi então que fomos surpreendidas por um boi bravo que entrou pela porta da garagem, correu pelo pátio e veio em minha direção. Não tive tempo de retirar a mana da caixa. Corri e fechei a porta. O boi passou correndo pela caixa e não viu a criança que estava lá. Na nossa rua sempre passavam as tropas (não as de Elite...) mas as boiadas que iam para o frigorífico.
Nossos pais e vizinhos sempre gritavam para corrermos para dentro de casa e fecharmos as portas. Olhávamos pela janela, aqueles imensos animais invadindo a rua e as calçadas.
Mana, se estiveres lendo isso, quero que saibas que eu não fiz de propósito te deixar lá, mas eu fui surpreendida e a primeira coisa que fiz foi correr.

Débora Benvenuti

http://colchaderetalhos13.blogspot.com.br

Submited by

sexta-feira, agosto 15, 2014 - 21:41

Prosas :

No votes yet

deborabenvenuti

imagem de deborabenvenuti
Offline
Título: Moderador Poesia
Última vez online: há 4 anos 45 semanas
Membro desde: 05/10/2010
Conteúdos:
Pontos: 2576

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of deborabenvenuti

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Poesia/Fantasia O SENTIMENTO E A EMOÇÃO 2 1.795 08/23/2010 - 23:00 Português
Poesia/Pensamentos A CONFIANÇA 1 2.908 08/21/2010 - 15:34 Português
Poesia/Fantasia NO TÚNEL DO TEMPO 1 2.563 08/18/2010 - 21:08 Português
Poesia/Fantasia O AMOR E A FELICIDADE 2 1.808 08/11/2010 - 23:50 Português
Poesia/Geral O MANTO DA INCERTEZA 2 1.143 08/11/2010 - 07:50 Português
Poesia/Pensamentos FELICIDADE E ILUSÃO 2 1.947 08/11/2010 - 07:02 Português
Poesia/Dedicado PAI PARA SEMPRE 1 1.816 08/09/2010 - 22:52 Português
Poesia/Pensamentos A VERDADE E A HIPOCRISIA 3 1.943 08/07/2010 - 14:50 Português
Poesia/Fantasia A IDÉIA E A EXPRESSÃO 2 1.612 08/07/2010 - 14:26 Português
Poesia/Aforismo PRÉ-ESCRITO 3 1.707 08/07/2010 - 01:19 Português
Poesia/Aforismo O RACIOCÍNIO E A INTERPRETAÇÃO 2 1.948 08/05/2010 - 01:22 Português
Poesia/Tristeza COMO DIZER ...ADEUS! 3 1.850 08/04/2010 - 01:42 Português
Poesia/Fantasia AO SOM DE UM VIOLINO 1 2.286 08/02/2010 - 19:58 Português
Poesia/Tristeza INQUIETUDE 2 1.422 07/31/2010 - 01:02 Português
Poesia/Aforismo PAIXÃO OU AMOR? 1 1.290 07/30/2010 - 02:36 Português
Poesia/Amor PROPOSTA IN(DE COR ROSA) 1 1.665 07/26/2010 - 23:43 Português
Poesia/Dedicado PINCELANDO SONHOS 3 2.326 07/26/2010 - 08:46 Português
Poesia/Amor RETIRANTES 1 2.314 07/25/2010 - 01:08 Português
Poesia/Fantasia A SOMBRA 3 1.970 07/24/2010 - 00:38 Português
Poesia/Geral O ÓLEO DA NATUREZA 1 1.474 07/23/2010 - 08:58 Português
Poesia/Paixão SEDUÇÃO DE OUTONO 4 1.317 07/21/2010 - 18:39 Português
Poesia/Amizade AMIGO 1 2.656 07/20/2010 - 23:23 Português
Poesia/Fantasia AONDE VAIS...? 3 1.362 07/20/2010 - 16:49 Português
Poesia/Amor A MURALHA INVISÍVEL 1 1.842 07/17/2010 - 22:33 Português
Prosas/Contos O CAVALEIRO MEDIEVAL 1 3.150 07/14/2010 - 11:55 Português