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Monólogo da memória
Fecha os olhos. Esquece que viste os véus que libertei no vento [transparências do Ser que substituí por metros de tecido enrugado, áspero como o sol pode ser]. Esta pele que não sinto como minha, não passa de uma película que me esconde, enquanto desapareço por entre as dunas do esquecimento.
Não dei pelo tempo passar. Não notei quando a trilha se tornou agreste. Não até ser tarde. Não até ver diluídos - num mar morto, denso e crescente - todos os sonhos que sonhei. Cresce um mar onde eu definho.
Fecha os olhos sente a brisa quente. Concentra-te no movimento das ondas de areia. É ilusório, bem sei. É o calor ondulante. É o reflexo cintilante dos milhões de grãos que o vento não pára de empurrar para dentro de mim. É infértil, mas sinto-o crescer. Cresce o deserto onde eu definho.
Fecha os olhos. Concentra-te no som da chuva, no cheiro da terra molhada. Esquece que tenho sede, que estou faminta. Imagina-me e perde-te nos detalhes. Pés feridos, unhas gastas, mãos ensanguentadas, com um sorriso não se afunda, nem se soterra. É um sorriso esculpido no tronco da esperança. Desenhei-lhe a forma de uma ponte, de uma jangada, de uma tenda. É um sorrir do céu, um singelo oásis, neste meu deserto rodeado de mar, que cresce enquanto definho.
Fecha olhos, esquece-me agora…
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