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As noites da Pantera

A noite chegou como se alguém tivesse atirado um pano escuro sobre o sol. Com ela, as nuvens de humor negro explodiram em gargalhadas de luz e risos grossos em forma de lágrimas.
Sobressalto a cada raio, passo agitado orientado para o abrigo.
A imagem da paragem de autocarro, à entrada do parque, serve de consolo, assim como a do banho de imersão e a da chávena de chá quente.... Corro, sem me importar com os lençóis de água que me encharcam os pés e salpicam o corpo.
A chuva e o eco dos meus passos, a trovoada e o compasso do meu coração têm um efeito afrodisíaco em mim, como aquela dança que dança e enrola sem par.
Abrando para apreciar o meu próprio medo, solto o riso com a mesma ferocidade do trovão, estico-me como se não pudesse esperar pelo toque da água. A minha mente é ágil como o salto da pantera, as minhas unhas obedecem ao comando e transformam-se nas garras que cortam o tecido.
Eu já não sou a potencial presa, tarde demais para isso. A transformação já se deu e cada passo meu é um ronronar felino... Lambo os lábios e identifico sabores... Brinco!
Salto e brinco sem me preocupar, livre estou de qualquer orientação. Dou o corpo à vegetação e esta ou cede ou quebra!
A luz de um céu electrificado não me desorienta, rosno a cada ameaça... Desafio!
Enrolo-me nos lençóis de água, deslizo no verde escuro do chão alagado. Sem medo, sem pressa.
Despejo a taça da moral humana, deixo transbordar a taça do animal.
A minha língua na minha pele, como um gato que lava a pata.
Cuidados de mim para mim.
O céu agita-se, ilumina-me o corpo com os seus flaches e eu grito-lhe:
_ Também os meus olhos brilham no escuro!
Estamos em transe, o céu e eu!
Tudo se encaixa com a mente vazia (há espaço para rodar as peças).
Não dou pelas rajadas de vento que empurram a tormenta para longe e as nuvens já não dão gargalhadas, têm a boca aberta pelo espanto e deixam a lua escapar.
Ali fico eu, alinhada com o mundo natural, como se flutuasse... Não estou à deriva, não poderia ainda que quisesse!
Na pálida luz vejo o fio que me prende ao lugar e à forma. A brisa espalha-me, deliciosamente, o seu sabor pela boca e os meus olhos cravam-se na silhueta que reconheço, procurando o brilho dos seus dentes. Logo os terei mais de perto infligindo-me uma dor prazerosa...
Não é amor o que fazemos, é guerra. Damos o corpo à luta até que o cansaço nos vença. Nessa altura, viro costas e cada passo meu é um ronronar felino.
Tal como não existe um amanhecer a dois, também não há lugar para o adeus.
Outras noites serão as noites da Pantera...
 

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sexta-feira, abril 15, 2011 - 11:46

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Ema Moura

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