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O Despertador

O enorme relógio branco em forma de cubo, que fica no alto de uma torre de cimento em frente à estação rodoferroviária de Curitiba, marcava que se eu não corresse acabaria perdendo o ônibus para São Paulo.
Apertei o passo ao longo da fileira de táxis cor de laranja, que por sinal sempre achei de extremo mau gosto, enquanto fazia malabarismo ao tentar conjugar os movimentos de equilibrar a bolsa que carregava ao ombro e tirar a passagem amassada do bolso cheio de moedas.
Podia ouvir uma sirene que começava a mostrar seu grito desesperado se aproximando. Passaria despercebida se não fosse pelo fato de ter me apresentado uma situação que veio a fazer com que perdesse meu ônibus.
Quanto mais eu corria para não perder o ônibus, mais o estardalhaço da sirene aumentava e, quando berrava ao máximo, levei um susto ao passar por um mendigo que dormia em um banco e que, de um pulo extremamente ágil, saltou das profundezas de sabe-se lá que pesadelo abissal colocando-se sentado.
Não pude deixar de me deter ao ver tamanho susto.
O coitado estava ofegante. Os olhos vermelhos arregalados. Uma expressão de pavor. Passava a mão sobre a testa, de onde escorria suor. Depois passava as mãos pelas barbas. Colocava as mãos sobre o estômago. Não sabia onde enfiar as mãos. A respiração pesada. Os olhos apavorados buscando a ambulância – que graças a Deus não era uma viatura da polícia –, que se afastava com sua sirene infernal conduzindo mais um dentre os tantos estropiados do cotidiano rumo ao Hospital do Cajuru.
A cena que se seguiu foi desconcertante. Os olhos do homem se encheram de lágrimas, que não demoraram a se transformar em um manancial de prantos. Um homem feito, passado dos quarenta anos, chorava igual à criança. Levantou-se do banco de cimento, os punhos cerrados erguidos para o céu, os dentes trincados.
- Seu filho da puta! – gritava aos céus. – Filho da puta! Desgraçado! O que foi que eu fiz prá você?! O que foi que eu te fiz seu desgraçado?! Já não basta não ter casa, família, comida?! O que mais você quer?! O que quer de mim?! Me deixa dormir em paz porra! Me deixa dormir...
Andei mais alguns passos e desabei sobre um banco de cimento mais à frente. Não importava o ônibus. São Paulo não sairia do lugar. Havia tempo de sobra para deixar que minha perplexidade acompanhasse os prantos que acabara de ver.
Peguei um ônibus pela madrugada. Seriam seis horas até São Paulo. Seis horas de sono. Mas que espécie de homem, por mais cansado que estivesse, dormiria depois de ter visto aquela cena?
Não dormi. Fiquei olhando pela janela. Quando o dia amanheceu mostrando a estrada cinzenta e eu pude ver o céu coberto de nuvens igualmente cinzentas, procurei fitar além destas.
- O que tem a me dizer? Seu filho da puta...
 

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quarta-feira, maio 18, 2011 - 16:36

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Maurício Decker

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